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Monday, August 29, 2011

EL REINO DEL DRAGÓN DE ORO - Isabel Allende

"Ninguno de los dos contaba las horas, porque el tiempo no les interesaba. El calendario es un invento humano; el tiempo a nivel espiritual no existe, le había eseñado el maestro a su alumno." (narrativa, pag. 9, El Reino del Dragón de Oro) 
Esse foi um livro interessante que trouxe alguns temas importantes. Mesclando os diversos ensinamentos do budismo, Allende conta a aventura vivida por Alexander, Nadia e Kate no Reino Proibido. Situado no meio dos picos do Himalaia, esse país segue uma cultura antiga e busca manter-se fora das influências ocidentais. Nesse país, o futuro rei é preparado por um monje budista durante anos, absorvendo aos poucos toda a sabedoria acumulada. 

Tensing é o monje que está ensinando a Dil Bahadur, o príncipe e futuro rei do país. Eles vivem nas encostas do Himalaia, longe das cidades, do conforto e da riqueza do palácio real. Já haviam passado 12 anos desde que o príncipe fora passado aos cuidados de Tensing para treinamento. 

Do outro lado do mundo, Kate, junto com Alexander, Nadia e sua equipe  do National Geographic, viaja para o Reino Proibido a fim de fazer uma reportagem sobre o país. Além dela, outras pessoas também estão interessadas no país e no lendário Dragão de Ouro, porém com intenções maliciosas. A trama se desenvolve em cima do encontro dos três 'grupos' de personagens, que passam por diferentes aventuras tentando salvar o Dragão de Ouro. 

Gostei mas não ameeeei! Não sei se porque li depois de Brumas de Avalon, mas a história não me deixou com aquela vontade insuportável de ler que eu sentia com o outro livro. Mas vale a pena. As pinceladas sobre o budismo são interessantes e estão inseridas no decorrer da história. Ah, lembrando que esse é o segundo livro da trilogia. O primeiro é "Ciudad de las Bestias".

Se abstraírmos um pouco, podemos pensar que Allende está preocupada com as questões culturais de cada região do planeta, que estão sendo influenciadas e até mesmo substituídas (em parte, claro) por aquelas ocidentais. Abstraindo mais um pouco, ela trata da existência das 'bestias', animais pré-históricos que vivem em um local isolado e que a humanidade em geral não tem acesso, as quais pouquíssimas pessoas sabem de sua existência. Daí surge uma questão: será que para os seres viventes, diferentes de nós, continuarem habitando o planeta eles têm que se esconder de nós?

Partes interessantes:

"El miedo no es real, Dil Bahadur, sólo está en tu mente, como todo lo demás. Nuestros pensamientos forman lo que suponemos que es la realidad" (Tensing a Dil Bahadur, pg. 13)

"Enfrenta los obstaculos a medida que se presenten, no pierdas energía temiendo lo que pueda haber en el futuro" (Alexander recordando as palavras do pai, pg. 94)

"Sabía que nada en el mundo es permanente, todo cambia, se descompone, muere y se renueva en otra forma; por lo tanto aferrarse a las cosas de este mundo es inútil y causa sufrimiento. El camino del budismo consistía en aceptar eso." (El rey del Reino Proibido, pg. 154)

"La tormenta arranca del suelo al fornido roble, pero no al junco, porque éste dobla. No calcules mi fuerza, sino mis debilidades" (Tensing a Dil Bahadur, pg. 166)

"... no importa lo que uno crea o no crea, sino lo que uno hace. No podían cazar un pájaro para comerlo, y menos podían matar a un hombre. Debían ver al enemigo como un maestro que les daba la oportunidad de controlar sus pasiones y aprender algo sobre sí mismos." (narrativa, pg. 194)

"Lo único cierto es que en este mundo todo cambia constantemente, Judit. El cambio es inevitable, ya que todo es temporal. Sin embargo, a los seres humanos nos cuesta mucho modificar nuestra esencia y evolucionar a un estado superior de conciencia. Los budistas creemos que podemos cambiar por nuestra propria voluntad, si estamos convencidos de una verdad, pero nadie puede obligarnos a hacerlo." (El Rey hablando con Judit, pg. 275)

Esta edição: ALLENDE, ISABEL. El Reino del Dragón de Oro. 5. ed. Buenos Aires: Debolsillo, 2011.  

Monday, July 25, 2011

AS BRUMAS DE AVALON - O PRISIONEIRO DA ÁRVORE - Marion Zimmer Bradley

"Nesse momento, acompanhando o restante da família real,caminhou até o altar para receber o pão santificado. Morgana, atenta ao seu lado, foi a única dentre todos  os familiares que não se aproximou do altar da comunhão; Morgause pensava desdenhosamente que Morgana era uma grande tola. Não só alienara o povo, como o mais piedoso dentre os vassalos a chamava de feiticeira e bruxa, e até de coisas piores entre eles. E, afinal, que diferença isso fazia? Uma mentira religiosa era tão boa quanto outra, ou não?" (Pensamentos de Morgause sobre Morgana, pg. 56).

Este livro apresenta o desfecho da história. Os personagens já estão mais velhos, fala-se bastante sobre as características físicas de agora - cabelos brancos, a fisionomia não tão jovial como antes - e fala-se também das lembranças de um tempo passado, de episódios que aconteceram nos livros anteriores. Os personagens começam a lamentar a jovialidade que não têm mais, de fatos e pensamentos que antes se mostravam tão importantes mas que agora já não fazem tanta diferença.

O dia de Pentecostes traz grandes surpresas para todos. Artur aguardava o dia para poder nomear, oficialmente, Galahad, filho de Lancelote, como seu sucessor. Enquanto Galahad se senta ao lado dos grandes reis, o filho de Morgana - e de Artur - Gwydion, é apresentado a todos. Ele é levado à festa por Morgause. Como ele não queria fazer votos em nenhuma igreja cristã, ele desafia Lancelote para uma luta, nos jogos do Pentecostes. Este acaba perdendo a luta, e Gwydion pede a Artur que seja nomeado um de seus cavaleiros devido a este feito. 

Morgana trama contra Artur, e o leva, junto com seu amante Acolon, ao mundo das fadas, onde eles lutam e Acolon falece. A intenção é que a Excalibur fosse tomada de Artur, mas este suportou bravamente a luta e saiu ferido, porém vivo, da luta. Morgana, sorrateira, rouba a bainha mágica que fez para Artur enquanto este se recuperava dos ferimentos. Ela é perseguida, mas consegue se desfazer da bainha ao jogá-la no lago de Avalon.

Morgana volta então para Avalon, onde descobre que Kevin havia roubado as relíquias sagradas. Nimue é chamada e ela desenvolverá um papel de grande importância agora. Como estava reclusa, e ninguém conhecia seu rosto, ela é levada para a corte de Artur e tramar a vingança contra Kevin. Ela deveria seduzí-lo, e levá-lo prisioneiro de volta a Avalon, onde seria castigado pelo roubo. Mas antes, em uma das festas de Pentecostes, acontece um "milagre" com a relíquia do cálice: Morgana, com a ajuda de Raven, ou por uma magia da Deusa, encarna um "anjo" e promove uma visão a cada um dos presentes. O cálice circula por entre todos, e todos provam do vinho que alí estava, e depois o cálice some. Cada um fala sobre uma coisa diferente que viu: uns viram a virgem Maria, outros um anjo, outros apenas uma forte luz... mas no fim os cavaleiros de Artur se separam para poderem buscar o santo Graal, e o único que fica a seu lado é Gwydion. 

Raven falece nesse mesmo dia: talvez pela grande força que despendeu para que a magia acontecesse. Morgana volta a Avalon, e agora espera até que Nimue faça seu trabalho. Nimue efetua um encanto em que tanto ela quanto Kevin se sintam apaixonados, e esse é o perigo: o encanto recai sobre os dois, e tudo que um sente, o outro sente também. Depois de alguns meses, Nimue volta para Avalon com Kevin, mas não suporta o sofrimento de ver o amado sendo executado. Ela se suicida no mesmo momento em que ele é morto, e que cai um raio e parte o grande salgueiro em dois. Kevin é então "enterrado" dentro da fenda da árvore, e Nimue encontrada no lago, morta. 

No meio tempo, Galahad, assim como vários dos cavaleiros de Artur, saiu em busca do graal e não volta mais: ao encontrá-lo, ele morre ao ver sua luz. Artur fica novamente sem herdeiros para seu trono. 

Gwydion trama contra Gwen e Lancelote: este mata alguns dos cavaleiros de Artur e foge com Gwen em um cavalo em disparada. Gwen convence Lancelote de que é melhor ela ir para o convento de Glastonbury, e ele volte para fazer as pazes com Artur. Ela então se enclausura alí para sempre. Lancelote volta para a corte, mas o livro não apresenta muitos detalhes do que acontece alí. 

Sabe-se então que Gwydion luta com Artur, que sai vencedor. Mas tudo isso é contado com poucos detalhes, como se fosse uma visão de Morgana. Ela encontra Artur ferido e fica junto a ele até que ele faleça. Lancelote vira padre, e após algum tempo, Morgana vai ao convento de Glastonbury onde reconhece a presença da Deusa nas imagens da virgem Maria. E assim termina a história de Avalon e do reino de Artur. 

É um livro ótimo, assim como todos os outros! Mas senti falta de mais detalhes dessa luta entre Gwydion e Artur. Vale muito a pena ler os quatro livros! Recomendo muito... já faz parte da lista dos meus preferidos! 

Passagens interessantes:

"O deus deles seria Uno, e o único e apagaria todas as referências à Deusa a quem servimos. Ouça-me, Kevin, será que você não vê como isso limita a sabedoria do mundo, se existir um único Ser, em vez de muitos? Acho que foi um erro transformar os saxões em cristãos. Creio que os antigos padres que viveram em Glastonbury tinham razão. Por que não poderiam existir muitos caminhos, os saxões seguindo o deles, nós o nosso, os seguidores de Cristo a cultuá-lo se o quisessem, sem perseguir a crença dos outros?" (Morgana em conversa com o Merlim, Kevin, pg. 95)

"Por que, Morgana perguntava-se, tem de ser assim? Tinha a ver com o conhecimento de que o mundo era como era por causa daquilo em que os homens acreditavam que era... ano após ano, nestas últimas três ou quatro gerações, a mente dos homens endurecera-se, passando a crer que havia um Deus, um mundo, um  modo de descrever a realidade, que todas as coisas que se intrometessem no reino dessa grande unidade tinham de ser más e demoníacas, e que o som de seus sinos e a sombra de seus lugares santos manteriam o mal afastado. E como mais e mais pessoas acreditavam nisto, era assim, e Avalon não passava de um sonho à deriva em um mundo quase inacessível." (Pensamentos de Morgana, pg. 125)

"Talvez a religião que exige que todo homem trabalhe por vidas e vidas para sua salvação seja demais para a humanidade. Eles não querem esperar pela justiça divina, mas querem vê-la agora. E este é o chamariz que esta nova raça de sacerdotes lhes prometeu." (Lancelote em conversa com Morgana, pg. 198)

Esta edição: BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon - O Prisioneiro da Árvore. Rio de Janeiro: Imago, 1985. 

Leia também:



AS BRUMAS DE AVALON - O GAMO-REI - Marion Zimmer Bradley

"... E naturalmente o pecado, o bem e o mal, tudo isso são mentiras contadas pelos padres e pelos homens. A única verdade é que crescemos, morremos e desaparecemos como esta folha de grama, aqui. Bem, vou participar da vigília de Gareth, como prometi. Pelo menos, ele me ama com toda a inocência, como um irmão mais novo, ou um filho. Eu teria medo de me ajoelhar ante o altar se acreditasse numa palavra do que os padres dizem, condenado como estou. E mesmo assim, como desejo que houvesse um Deus que me pudesse perdoar, e me fizesse saber que estou perdoado..." (Lancelote em conversa com Morgana, pg. 40, Brumas de Avalon - O Gamo-Rei)
Assim como nos outros livros, o terceiro volume continua discutindo questões relacionadas a religião, paganismo e cristianismo. Coloquei algumas passagens que mostram essas discussões, e as posições dúbias dos personagens, que não sabem em quê acreditar. Provindos de uma cultura "pagã", se debatem entre aquilo que acreditam desde sempre e o que o cristianismo vem apresentar a eles. Durante toda a história ressurgem esses debates, em um momento que destaca essa insegurança e dúvida que recaem sobre toda a corte e a própria população. Ainda existem em algumas regiões o culto à Deusa, enquanto os padres já exercem influência sobre grande parte da população. E, claro, Gwenhwyfar possui importante papel na dispersão dessa religião.

Muitas coisas importantes acontecem nesse volume. Logo no início Gwen descobre sobre o filho de Artur e Morgana. Ela acha que Deus castigou ela e Artur por causa desse grande pecado e por isso ela não havia conseguido engravidar. Artur então é impelido por ela a confessar com o sacerdote e este lhe impõe uma sorte de penitências para que possa se redimir perante Deus, a começar na festa de Pentecostes. 

Logo nessa festa, Viviane é assassinada por Balim, que sempre achou que havia matado sua mãe, no livro anterior. A verdade é que sua mãe estava sofrendo muito e Viviane praticou a eutanásia. Viviane é assassinada, o Merlim Taliesin passa mal, Morgana desmaia... é uma confusão só que acaba com a festa de Pentecostes de Artur. Ainda nesse volume Taliesin morre e Kevin assume seu lugar como Merlim da Bretanha. 

Morgana é dada em casamento ao velho rei Uriens, de Gales do Norte. Mas antes ela havia se apaixonado por seu filho, Acolon. Daí já se sabe o que acontece. Casada com Uriens, ela se deita também com seu filho, Acolon. No norte ela é rainha e exerce sua influencia sobre Uriens e Acolon, de modo que as festividades de Beltane continuam naquela parte do reino de Artur. 

Elaine teve uma filha de Lancelote e, ao final do livro, ela busca a menina para que vá viver em Avalon, conforme o trato estabelecido entre as duas. Nimue é levada então para lá e vive com Raven, longe de todas as outras sacerdotisas. Ela terá, no próximo livro, um papel de grande importância e que destacará a necessidade de ter vivido reclusa.

Assim como os outros livros, este se mostra extremamente instigante! A leitura é gostosa e é praticamente impossível largá-lo antes de terminar! 

Passagens interessantes:

"Deus não me recompensou pela minha virtude. O que me faz pensar que ele me poderia castigar? E teve em seguida um pensamento que lhe fez medo: Talvez não exista Deus, nem qualquer dos deuses em ue as pessoas acreditam. Talvez seja tudo uma grande mentira dos padres, para que possam dizer para a humanidade o que fazer, o que não fazer, no que acreditar, dar ordens até mesmo ao rei." (Gwen, pensando em um momento em que estava com Lancelote, pg. 84, grifo da autora)

"Mas eles só são parentes meus, e próximos, pelas leis feitas por cristãos, que querem governar esta terra... Governá-la com uma tirania nova - não só querem fazer as leis, mas também dominar a mente, o coração e a alma. E estou eu sofrendo, na minha vida, toda a tirania dessa lei, para que, como sacerdotisa, saiba por que ela deve ser derrubada?" (Pensamentos de Morgana, pg. 163).

"Essa fé me parece demasiado simples. A idéia de que basta acreditar que Cristo morreu para nos redimir de todos os nossos pecados, de uma vez por todas... Mas eu conheço demais a verdade, a maneira pela qual a vida funciona, com vidas sucessivas nas quais nós mesmos, e só nós, é que podemos resolver as causas que colocamos em movimento e tentar compesnar o mal que fizemos. Não é lógico que um homem, por mais santo e bendito, pudesse redimir todos os pecados de todos os homens, cometidos em todas as suas eexistências. O que mais poderia explicar porque alguns homens têm tudo, e outros, tão pouco? Não, é uma artimanha cruel dos padres levar os homens a acreditar que têm o ouvido de Deus e que podem perdoar seus  pecados, em nome dele. Ah, eu gostaria que fosse verdade. E alguns padres são homens bons e sinceros." (Lancelote em conversa com Morgana, pg. 198).

Esta edição: BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon - O Gamo-Rei. Rio de Janeiro: Imago, 1985. 

Tuesday, July 19, 2011

AS BRUMAS DE AVALON - A GRANDE RAINHA - Marion Zimmer Bradley

"... E tenho medo de que tanto Avalon quanto os cristãos estejam errados e que não haja deuses nem Céu e nenhuma vida depois da morte, de modo que, ao morrer, eu pereça para sempre. Por isso, temo morrer antes de ter saboreado o que me cabe na vida". (Lancelote em conversa com Morgana, pg. 78, As brumas de Avalon - A grande rainha)
Continuando o primeiro livro da trama... só um comentário: me arrependo de não ter escrito aqui antes de ter lido os livros 3 e 4 pois acabei misturando um pouco as expectativas e as próprias histórias entre eles. Esse livro aborda diferentes passagens das vidas dos diversos personagens. Vou tentar fazer um resumo das principais partes.

O livro se inicia contando sobre Morgana e sua gravidez. Morgana deu a luz a um menino, Gwidion, filho de Artur, na corte de Morgause, esposa de Lot e sua tia, após um parto muito dificil e doloroso. Dizia-se que ela não poderia mais ter filhos, devido ao parto traumático. Morgause, pensando no trono de Artur no futuro, não deixou que Morgana tomasse seu filho nos braços após o parto, e esta acabou por deixá-lo em sua corte para ali ser criado.

Gwenhwyfar é tomada por Artur como noiva. Lancelote foi buscá-la nas terras de seu pai - Leodegranz, juntamente com cavalos e guerreiros que foram dados a Artur. Lancelote se lembra de tê-la encontrado anteriormente em Avalon, quando ela se perdeu na ilha dos padres e acabou por ultrapassar as brumas. Junto com Morgana, nesse dia ele a conduz de volta a ilha e se encanta com a moça. Anos depois ele é encarregado de buscar a noiva de Artur, porém sem saber que era a moça por quem ele havia se encantado.  Ao primeiro encontro eles se apaixonam perdidamente, mesmo sendo um amor proibido. 

Morgana vai então ao casamento de Artur e Gwen. Igraine deixa o convento, onde passa quase todo o tempo após a morte de Uther, para participar das festividades. Após alguns anos Igraine morre no convento, chamando por Morgana. Mas esta estava perdida no mundo das fadas e nada soube...

Após alguns anos na corte de Artur, Morgana tenta voltar para Avalon, mas se perde no caminho e encontra o país das fadas. Passa ali um tempo que ela não se dá conta, até que ouve um grito de Raven e "acorda", como de um sonho profundo, e vai embora. Confusa por não ter conseguido entrar em Avalon, ela não se acha digna de ali voltar. Viaja, então, para a corte de Artur, a pé. Durante dias viajou sozinha, dormindo em casas abandonadas, e comendo o que encontrava pelo caminho. Parecia uma mendiga. No meio do caminho encontrou Kevin, o harpista, que foi indicado por Taliesin para ser o novo Merlim da Bretanha. Ele a deu de comer e ele a contou as coisas que haviam acontecido desde sua partida. Artur havia construído um novo castelo e para lá mudado: Camelot. Morgana foi com Kevin para o novo castelo e lá passou vários anos. 

Durante todo o tempo Gwen e Lancelote sofrem pelo amor proibido. Kevin se torna amante de Morgana: mesmo com seu corpo aleijado, ela o aceita e chega a amá-lo. Morgana também tentou ajudar Gwen a se engravidar: todas as vezes que ela engravidava, abortava em pouco tempo. Artur chegou a achar que a culpa era sua, e permitiu que Gwen tentasse lhe dar um filho pelas mãos de Lancelote. 

Passagens interessantes:

"Eu sabia, desde a primeira vez que trilhei este caminho, que haveria momentos de desespero total, quando se busca arrancar o véu do santuário, e quando se grita por ela, sabendo que não responderá porque não está ali, porque nunca esteve ali, não há Deusa, mas apenas nós mesmos, e estamos sós na zombaria dos ecos refletidos por um santuário vazio... Não há ninguém ali, nunca houve ninguém ali, e toda a Visão não passa de sonhos e alucinações..." (Viviane em um monólogo, pg. 146, Grifo da autora).

"Deus é uno, e há apenas um Deus. Todo o resto, são coisas de ignorantes que procuram colocar deuses numa forma qe se possa compreender, como aquela imagem da Virgem, ali, Senhora. Nada acontece neste mundo sem a bênção do Uno, que nos dará a vitória ou a derrota, como Deus quiser. O Dragão e a Virgem são ambos símbolos do apelo dos homens a algo superior a nós" (Taliesin em conversa com Gwenhwyfar, pg. 188).

"Á medida que envelheço, penso cada vez mais que talvez o que consideramos como o passar do tempo só acontece porque adquirimos o hábito, terrivelmente arraigado, de contar as coisas - os dedos de um recém-nascido, o aparecer e o retornar do sol -, e por isso pensamos com muita frequência no número de dias ou de estações que devem transcorrer antes que o grão amadureça, ou nosso filho cresça no ventre e seja dado à luz, ou que algum encontro muito desejado se concretize. E os regisramos de acordo com o passar do ano e do sol..." (Morgana divagando sobre os dias em que passou no país das fadas e o passar do tempo, pg. 215). 

"Mesmo assim, rainha, ninguém pode ser dono da consciência de outrem. Mesmo que isso lhe pareça maligno e vergonhoso, a senhora poderia pretender saber o que é certo ou errado para os outros? Nem mesmo os sábios podem saber tudo, e talvez os deuses tenham mais objetivos do que nós, com nosso parco conhecimento, podemos saber" (Taliesin em conversa com a Gwenhwyfar, pg. 230).

Esta edição: BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon, livro 2: A Grande Rainha. Rio de Janeiro: Imago Editora LTDA, 1985.

Leia também:

As Brumas de Avalon - A Senhora da Magia (1)

Monday, June 6, 2011

AS BRUMAS DE AVALON - A SENHORA DA MAGIA - Marion Zimmer Bradley

"Fico pensando... - E ele traçou novamente a linha das serpentes imaginárias, tocando-lhe o pulso com a outra mão. - Sempre soube que tive outras vidas, pois parece-me que a vida é algo demasiado grande para ser vivida apenas uma vez e ser logo apagada como uma lâmpada, quando o vento sopra. E por que, então, quando a vi pela primeira vez, senti que já a conhecia antes mesmo de o mundo ser feito? Essas coisas são mistérios, e creio que talvez as conheça melhor do que eu." (Fala de Uther  a Igraine, sobre um amor de outra vida entre os dois, pg. 125, As Brumas de Avalon, A senhora da Magia)
Eu já o havia tentado ler anteriormente, mas sem sucesso, parei nas primeiras 20 páginas do livro. Muitos personagens permeiam a trama e talvez por isso, na minha primeira tentativa há alguns anos atrás, eu o tenha abandonado. Porém, nessa segunda tentativa de leitura, esse livro se mostrou totalmente envolvente. Sim. Talvez o início se mostre um tanto confuso, com muitas histórias entrelaçadas e uma grande quantidade de novos personagens. Mas essa sensação passa... e me envolvi de tal forma na história que fica difícil querer parar de ler. 

Como primeiro livro da série, ele se dedica a contar como tudo começou. Relata a história de Igraine (irmã de Viviane), Viviane (Senhora do Lago e sacerdotisa de Avalon), Morgana (filha de Igraine), Merlim, Uther (grande rei da Bretanha) e Arthur. A trama se inicia contando um pouco da vida de Igraine, que se casou com Gorlois, Duque da Cornualha, como mandado pela sua irmã Viviane. Viviane havia criado Igraine até certa idade em Avalon e depois a enviou para casar-se com Gorlois. Igraine tem uma filha com Gorlois, chamada Morgana, mas ele desejava um filho dela. Porém agora Igraine deveria fazer parte de algo maior, algo que a Deusa havia traçado para sua vida: unir-se a Uther e dele ter um filho que, futuramente, seria o grande rei da Bretanha e uniria todos reis da região.

Igraine se mostra resistente no início pois, desde que se casou, vivia sob os preceitos da fé cristã e deitar-se com outro homem, que não fosse seu marido, lhe trazia grande desconforto e revolta. Porém, Gorlois, após a morte de Ambrósio (até então grande rei), relutou unir-se a Uther (devido a incidentes envolvendo sua esposa Igraine) e provocou, desta forma, guerra contra Uther. Este último, decidido a tomar Igraine como sua esposa e amante, foi buscá-la no castelo da Cornualha e entrou em combate com Gorlois, que faleceu. Uther então casou-se imediatamente com Igraine. Perdidamente apaixonada por Uther, ela lhe dá um filho, que se chama Arthur.

Arthur, ainda criança, sofreu alguns atendados contra sua vida e, como forma de protegê-lo, Uther segue a sugestão de Merlim e o envia para ser criado por um dos reis no interior do país, sem divulgá-lo a ninguém. Assim como Arthur, Morgana é enviada para morar em Avalon, junto com a tia Viviane, e ser iniciada nos costumes e crenças daquele povo. Esta se torna mulher e sacerdotisa em Avalon, enquanto Arthur se torna um rapaz forte. Morgana se apaixona por Lancelote, filho de Viviane (portanto seu primo e primo de Arthur), porém não tem sua paixão correspondida. No mesmo dia em que Morgana se sente perdidamente apaixonada por Lancelote, ele se sente atraído por uma garota cristã que estava perdida em Avalon (Gwenhwyfar).

Uther falece em batalha e Igraine passa a viver em um convento. Arthur então é chamado para tomar seu lugar como rei. Primeiro ele passa pelos rituais dos druidas, em que acaba por deitar-se com Morgana e engravidá-la, sob as figuras da Deusa e do Deus (Galhudo) na festa do Gamo-Rei. Após ser aceito por meio deste ritual pelos 'povos antigos', Arthur é então coroado grande rei da Bretanha também pelos cristãos. Em seguida, ele jura que respeitará os costumes e crenças dos druidas e dos povos antigos e, em troca, recebe a espada Excalibur e a sua bainha bordada com inúmeros encantamentos para protegê-lo. 

Além disso, é muito acentuada a discussão entre conceitos "pagãos" e cristãos, sobre o que é certo e o que é errado. Para mim, ficou clara a intransigência dos que são cristãos quanto ao convívio ou tolerância às crenças e hábitos dos ali chamados pagãos. É uma discussão interessante e que me deixou pensativa quanto às minhas próprias crenças, dentro das nossas perspectivas atuais. 

Esse primeiro volume da trama possui 280 páginas que consumi prazerosamente, já ansiosa pelo o que virá nos próximos! Mais um livro tirado de nossa mini biblioteca, sua edição é de 1985. Para mais resenhas e resumos clique aqui.

Sobre essa edição: BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon: A Senhora da Magia. Rio de Janeiro: Imago, 1985.

Friday, May 6, 2011

AS AVENTURAS DE TOM SAWYER - Mark Twain

" Não me importo. Eu não sou toda a gente e não aguento aquela vida. É horrível vermo-nos assim amarrados e, mesmo sem querer, começa-se a resmungar. Desse modo já não me interessa a vida. Tenho de pedir licença para ir pescar; tenho de pedir licença para ir nadar; tenho de pedir licença para tudo; tenho de falar tão bem que só tenho vontade de ficar calado. Todos os dias vou um pouco para o sótão mascar fumo, senão morro, Tom. A viúva não me deixa fumar; não me deixa gritar; não me deixa bocejar, nem me espreguiçar, nem me coçar diante dos outros..." (Fala de Huck para Tom, pg. 272, As Aventuras de Tom Sawyer)

É um livro engraçado, que trata, como o título diz, das aventuras de um garoto de uma pequena vila às margens do rio Mississipi, nos EUA, no século XIX. É interessante ver como as crianças da época se divertiam, colhiam pequenos tesouros e criavam histórias fantásticas.

Tom é o personagem principal do livro, mas o divide com diversos outros personagens também importantes na trama. Tom é o "líder"  da traquinagem, e tem sempre uma nova idéia para brincar, explorar e aprontar alguma de suas proezas. Fiquei, a cada capítulo, esperando qual seria a próxima "aventura" em que ia se envolver.

Super fácil de ler, não usa linguagem complicada. Até então não havia lido nenhum livro de Mark Twain e quando encontrei esse na mini biblioteca aqui de casa, o escolhi na hora! O li em paralelo com Crônicas de Nárnia, mas acabei de lê-lo depois. Talvez por isso tive um viés na leitura, achando-o menos interessante, já que Nárnia me encantou tanto! Mas não deixo de indicá-lo para leitura.

Conforme a capa do livro: "Uma pequena epopéia realista, um panorama juvenil dos hábitos e superstições dos primeiros habitantes das planícies do meio-oeste norte-americano. Tom Sawyer, garoto esperto, desobediente e malicioso, sempre envolvido em complicações perigosas, é o pequeno herói desta obra destinada ao público juvenil - mas que também encanta adultos. O livro é marcado pela seriedade e amargura que constituem o substrato de todo o humorismo de Mark Twain."

Sobre essa edição: TWAIN, MARK. As aventuras de Tom Sawyer. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

AS CRÔNICAS DE NÁRNIA - C. S. Lewis

"É tão difícil explicar a diferença entre essa terra ensolarada e a antiga Nárnia, quanto dizer que gosto tinham as frutas daquele país. Talvez você consiga ter alguma idéia se pensar no seguinte: faça de conta que está em uma sala cuja janela dá para uma bonita baía, ou para um vale verdinho que se perde de vista entre as montanhas. Na parede oposta à janela existe um grande espelho. E, no espelho, o mar ou o vale são, num certo sentido, exatamente a mesma coisa que os reais. Ao mesmo tempo, porém, existe algo diferente: são mais vivos, mais maravilhosos, mais parecidos com os lugares de uma história que você, apesar de jamais ter ouvido, gostaria muitíssimo de escutar" (A última batalha, As Crônicas de Nárnia, pg. 731)

O que falar desse livro tão fantástico? Me entreguei à sua leitura com grande entusiasmo durante 2 meses... Um capítulo a cada dia e, quando não me aguentava, lia mais de um!!! Leitura fácil e tranquila, que nos instiga a ler mais e mais. E a tristeza que dá quando acaba o livro? Senti uma falta enorme ao acabar de lê-lo. Acho que por aqui já sabem minha opinião sobre o mesmo: é ótimo! E indico para todos!

Comprei a edição volume único, em que estão reunidas todas as Crônicas de Nárnia. São 7 histórias que são independentes, apesar de algumas delas fazerem referências a crônicas anteriores. Como são 7 diferentes histórias, não vou me ater a descrevê-las -  O Sobrinho do Mago; O Leão, a Feiticeira e o Gaurda-Roupa; O Cavalo e seu Menino; O Príncipe Caspian; A Viagem do Peregrino da Alvorada; A Cadeira de Prata; A Última Batalha. O intuito desse post foi servir de incentivo àqueles que ainda não o leram, e não de resumo ou resenha. É impossível resumir em poucas palavras tudo o que nos envolve em suas páginas...

Mas é interessante a relação que podemos fazer entre Aslam ( o Grande Leão) e Deus. "Os livros têm evidentemente uma temática cristã, sendo o leão a imagem de Deus e os sete livros a imagem da vida do cristão, começando pela Criação, ou Gênesis (O Sobrinho do Mago) e terminando pelo Fim dos Tempos, ou Apocalipse (A Última Batalha). O livro é cheio de mensagens cristãs de amor, paz e esperança em um ser maior e mais poderoso que todos nós (Aslam / Deus), mas também no respeito e na obediência a este ser, para nosso próprio bem." (Fonte:<http://www.infoescola.com/livros/as-cronicas-de-narnia/>, Acesso em 06/05/2011). Mais discussões a respeito desse tema nesse link.

Enfim, espero ter conseguido transmitir todo o prazer que tive lendo o livro! 

Boa leitura a todos =)

Sobre essa edição: LEWIS, C. S. As Crônicas de Nárnia. Volume único. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. 

Wednesday, February 16, 2011

SITES DE LIVROS

Para aqueles que se interessarem, o site Estante Virtual reúne diversos sebos e leitores de todo o país que queiram vender seus livros usados. É super interessante! Há pesquisa de preços entre os vendedores, o que possibilita a escolha entre os diversos ofertantes de maneira simples e rápida. É uma opção barata para quem não se importa de ler livros usados. 

Outro site interessante, mas que não é de venda, é o Skoob, em que as pessoas em seu login podem selecionar os livros já lidos, que querem ler, que estão lendo... dentre outras tantas opções, além de poder fazer uma resenha ou mesmo ver a opinião de outros leitores acerca de um determinado título. 

Ambos valem a pena!!! =)

Para mais informações, acessem os links que estão nos nomes dos sites.

Saturday, January 22, 2011

PEQUENA ABELHA - Chris Cleave

"Não se pode enxergar além do dia porque vocês levaram o amanhã. E porque vocês têm o amanhã diante de seus olhos, não enxergam o que está sendo feito hoje." (Pequena Abelha, Chris Cleave, pg.188)
É um livro bem escrito, que conta uma história interessante. Trata da vida de duas mulheres que se encontram por acaso, no início, mas que, posteriormente, têm suas vidas ligadas. Uma nigeriana (Pequena Abelha) e uma inglesa (Sara). A primeira vive um grande drama e a segunda aparece em sua vida para tentar auxiliá-la em sua batalha. Em um segundo momento, as vidas das duas pessoas voltam a se encontrar e elas passam a se ajudar mutuamente. É uma história forte, que nos chama a atenção sobre a situação precária - e perigosa -  que muitas pessoas na África vivem e também a condição delas no momento em que tentam mudar de país. 

O autor utiliza as duas personagens para contar a trama. Cada capítulo é narrado por uma delas, prevalecendo o ponto de vista da mesma. No inicio parece um pouco confuso, mas no fim, tudo se encaixa e a história é contada. Após essa adaptação inicial, fica bem fácil de ler. 

Vou optar por não falar muito da história, pois o próprio autor pede para não o fazer na capa do livro! E realmente, se eu contar o final, perde a graça. A trama é dividida em dois momentos e locais: primeiro, na Nigéria, onde Pequena Abelha e sua irmã (Nkiruka) encontram-se com Sara e seu marido (Andrew) em uma das praias do país. As duas, ainda crianças, fugiam da perseguição de soldados que foram pagos para exterminar a aldeia de onde vinham. Em um segundo momento, Pequena Abelha foge para Inglaterra, e lá, depois de dois anos presa em um 'Centro de detenção para imigrantes', procura por Andrew e Sara, e é quando suas vidas se encontram novamente. Enfim, resumidamente, é essa a história. 

Abaixo selecionei alguns trechos que achei interessantes e que refletem um pouco da vida das duas personagens principais:

"A morte, claro, é um refúgio. É para onde você vai quando um nome novo ou uma máscara e uma capa não conseguem mais escondê-lo de si mesmo. É para onde você corre quando nenhum dos principados da sua consciência lhe concede asilo." (pg.30)

"Foi horrível para mim não ajudar o homem, mas eu estava decidida, oscilando entre dois tipos de vergonha. Por um lado, a vergonha de não cumprir uma obrigação humana. Por outro, a loucura de ser a primeira de uma multidão a ousar um gesto." (pg.39)

"Esse é o problema da felicidade - ela é toda construída em cima de alguma coisa que os homens querem." (pg. 85)

"Não sei porque a pequena poça de urina me fez começar a chorar. Não sei por que a cabeça da gente escolhe essas pequenas coisas para nos fazer desmoronar." (pg. 86)

"Ainda tremendo, sentada no banco da igreja, compreendi que não é pelos mortos que choramos. Choramos por nós mesmos, e eu não merecia ter pena de mim mesma" (pg. 103) 

Essa edição: CLEAVE, Chris. Pequena Abelha. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2010.

Tuesday, January 11, 2011

AMAR, VERBO INTRANSITIVO - Mário de Andrade

"... Hoje, minha senhora, isso está se tornando uma necessidade desde que a filosofia invadiu o terreno do amor! Tudo o que há de pessimismo pela sociedade de agora! Estão se animalizando cada vez mais. Pela influência às vezes até indireta de Schopenhauer, de Nietzsche... embora sejam alemães. Amor puro, sincero, união inteligente de duas pessoas, compreensão mútua. E um futuro de paz conseguido pela coragem de aceitar o presente." (Amar, Verbo Intransitivo; pg. 78).
No início achei o livro um pouco chato, não me dava muita vontade de lê-lo. Mas mais para a metade, me interessei pela história que estava sendo contada. Talvez porque acabei de sair de um livro mais 'filosofia' e de repente entrar em um romance, pode ter demorado um pouco pra 'cair a ficha'. Achei que deveria lê-lo pois é um dos clássicos da literatura brasileira. Enfim, gostei do livro, mas não entra na minha lista dos favoritos! É uma história diferente e curiosa, para os tempos de hoje. 

A história gira em torno do 'relacionamento' entre Fräulen (Elza) e Carlos. Fräulen tem como profissão 'professora de amor' e Carlos é seu aluno, um jovem burguês de São Paulo, de apenas 16 anos. O pai, Souza Costa, contrata os serviços da professora pois acredita que nos dias de hoje é muito difícil a iniciação sexual de um jovem, uma vez que as 'mulheres da vida' têm muitas doenças. O que ele deseja é que Carlos continue sadio e aprenda a amar. Fräulen então entra na casa da família como governanta, e ensina piano e alemão para as filhas do casal (Souza Costa e Laura), enquanto durante as aulas de alemão para Carlos ela ia, discretamente, suscitando sentimentos diferentes no aluno. Por fim, eles se apaixonam e o  momento da partida de Fräulen se torna difícil e doloroso para ambos.   

De acordo com Telê Porto Ancona Lopez (em texto presente antes do início do livro, pg. 10): "O romance, porém, não pretende apenas contar uma história de amor; como texto moderno e modernista que é, tem muitos outros propósitos... Possui, além da heroína muito e pouco heróica, outra personagem 'principal', esta não participando diretamente da intriga, mas vivendo os percalços do contar - o narrador." Sim, o narrador acaba por roubar a cena algumas das vezes, tentando explicar um pouco dos personagens... Logo na página 57, o narrador afirma que 'Vale, porém não tenho a mínima intenção de exigir dos leitores o abandono de suas Elzas e impor a minha como única de existência real'. Ele acredita que cada leitor acaba por criar uma percepção particular sobre o personagem e, por conseguinte, seu próprio personagem. O livro traz ainda muitas palavras e versos em alemão, acredito devido a origem da professora e de suas aulas. 

Partes selecionadas que achei interessante... acho que tem um viés do livro anterior... enfim, essas são as que gostei mais:

"NÃO EXISTE MAIS UMA ÚNICA PESSOA INTEIRA NESTE MUNDO E NADA MAIS SOMOS QUE DISCÓRDIA E COMPLICAÇÃO" (Destaque do próprio autor. O narrador tratando da filosofia e do amor - pg. 80)

"Carlos se mostra alegre, despreocupado, não vê a doença e vai-se embora. O que não é visível, existe?" (sobre Carlos e sua ajuda a Fräulen quando da doença de Maria Luisa, uma das filhas do casal - pg. 114)

"Que coisa misteriosa o sono! ... Só aproxima a gente da morte, para nos estabelecer melhor dentro da vida..." (sobre a recuperação de uma doença de Maria Luísa, uma das filhas do casal - pg. 115)

"A casa esteve imóvel nesse dia. Todos sofriam. Porque Carlos sofria. O próprio Souza Costa sofria, porém era homem e voltara a achar certa graça no caso, aquilo passava. Os outros imaginavam que não passava. Isto é: não se preocupavam com esses futuros muito condicionais, o importante era o presente. E no presente pirassunungava a dor macota de um, todos sofriam." (sobre o sofrimento de Carlos com a partida de Fräulen - pg. 140)

 Essa edição: Andrade, Mário de. Amar, verbo intransitivo - Idílio. 13 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1986.

Saturday, January 8, 2011

PEQUENO TRATADO DAS GRANDES VIRTUDES - André Comte-Sponville

"Das virtudes quase não se fala mais. Isso não significa que não precisemos mais delas, nem nos autoriza a renunciar a elas. É melhor ensinar as virtudes, dizia Spinoza, do que condenar os vícios. É melhor a alegria do que a tristeza, melhor a admiração do que o desprezo, melhor o exemplo do que a vergonha." Pequeno Tratado das Grandes Virtudes (A.Comte-Sponville, capa do livro)
Como se pode ver, assim como o texto de 'Ética para o meu filho', este livro trata um tema específico: as virtudes. O autor divide o livro em 18 capítulos que contemplam 18 virtudes. É um texto filosófico, dado que o próprio autor é um filósofo, porém é muito gostoso de se ler. E o principal: não é preciso conhecer filosofia para entendê-lo! As vezes um pouco confuso, mas quando se apreende o estilo da escrita, se torna fácil. Os temas apresentados, juntamente com os respectivos exemplos, nos convidam a refletir sobre aquilo que temos como valores e, principalmente, como agimos em relação ao próximo. É um livro que vale muito a pena ler e indico a todos. Aliás, todos deveriam lê-lo!

Abaixo selecionei alguns trechos que achei interessante de cada uma das 18 virtudes: 

1. A Polidez 
'Há o que é permitido e o que é proibido, o que se faz e o que não se faz. Bem? Mal? A regra basta, ela precede o julgamento e o funda' (pg. 15)
'A polidez, se levada por demais a sério, é o contrário da autenticidade. Os certinhos são como crianças grandes bem comportadas demais, prisioneiras das regras, enganadas quanto aos usos e às conveniências' (pg. 20). 

2. A Fidelidade
'A fidelidade é virtude de memória, e a própria memória como virtude' (pg. 26)
'A infidelidade supõe a memória: uma pessoa só pode ser fiel ou infiel àquilo de que se lembra (um amnésico não poderia nem manter nem trair sua palavra), e é nisso que fidelidade e infidelidade são duas formas opostas da lembrança, uma virtuosa, a outra não' (pg. 27).

3. A Prudência
'De uma virtude intelectual, explicava Aristóteles, pelo fato de haver-se com o verdadeiro, com o conhecimento, com a razão: a prudência é a disposição que permite deliberar corretamente sobre o que é bom ou mau para o homem (não em si, mas no mundo tal como é, não em geral, mas em determinada situação) e agir em consequência, como convier' (pg. 38)
'A prudência é o que separa a ação do impulso, o herói do desmiolado' (pg. 41)

4. A Temperança
'A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres, em vez de seus escravos' (pg. 46)
'Ser temperante é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder,e é o contentamento.(...) A ilimitação dos desejos, que nos condena à falta, à insatisfação ou à infelicidade, nada mais é que uma doença da imaginação' (pg. 47)

5. A Coragem
'... digamos um domínio de si e de seu medo, disposição ou domínio de si que, sem serem sempre morais, são pelo menos a condição - não suficiente, mas necessária - de toda moralidade. O medo é egoísta. A covardia é egoísta' (pg. 56)
'Um homem de alma forte, lemos em Spinoza, "esforça-se por agir bem e manter-se alegre"; confrontado com os obstáculos, que são muitos, esse esforço é a própria coragem' (pg. 61)

6. A Justiça
'A justiça é aquilo sem o que os valores deixariam de ser valores ...' (pg. 71)
'A justiça situa-se neste duplo respeito à legalidade, na Cidade, e à igualdade entre indivíduos: "O justo é o que é conforme à lei e o que respeita a igualdade, e o injusto o que é contrário à lei e o que falta com a igualdade"' (pg. 72)
'...é necessário "pôr a justiça e a força juntas"; é para isso que a política serve e é isso que a torna necessária' (pg. 93)

7. A Generosidade
'A generosidade só é uma virtude tão grande e tão gabada porque é muito fraca em cada um, porque o egoísmo é mais forte sempre, porque a generosidade só brilha, na maioria das vezes, por sua ausência...' (pg. 103)
'Ser generoso é ser livre de si, de suas pequenas covardias, de suas pequenas posses, de suas pequenas cóleras, de seus pequenos ciúmes...Descartes via nisso não apenas o princípio de toda virtude, mas o bem soberano, para cada um, o qual consiste apenas, dizia ele, "numa firme vontade de agir bem e no contentamento que ela produz."' (pg. 106)

8. A Compaixão
'Compartilhar o sofrimento do outro não é aprová-lo nem compartilhar suas razões, boas ou más, para sofrer: é recusar-se a considerar um sofrimento, qualquer que seja, como um fato indiferente, e um ser vivo, qualquer que seja, como coisa' (pg. 118)
'Cabe acrescentar: mais vale um amor entristecido - o que é, exatamente, a compaixão - do que um ódio alegre' (pg. 121)

9. A Misericórdia
'É cessar de odiar, e é essa de fato a definição da misericórdia: ela é a virtude que triunfa sobre o ressentimento, sobre o ódio justificado (pelo que ela vai além da justiça), o rancor, o desejo de vingança ou de punição' (pg. 132)
'O fato, entretanto, é que perdoaremos mais facilmente quando tivermos consciência das causas que pesam sobre um ato ou, sobretudo, sobre uma personalidade' (pg. 138)
'A misericórdia é a a virtude do perdão, e seu segredo, e sua verdade. Ela não abole a falta mas o rancor, não a lembrança mas a cólera, não o combate mas o ódio. Ela ainda não é amor mas o que faz as vezes dele, quando ele é impossível, ou que o prepara, quando ele seria prematuro.' (pg. 143)

10. A Gratidão
'Agradecer é dar: ser grato é dividir. Esse prazer que devo a você não é apenas para mim. Essa alegria é nossa. Essa felicidade é a nossa. (...) A ingratidão não é incapacidade de receber, mas incapacidade de retribuir - sob forma de alegria, sob a forma de amor - um pouco da alegria recebida ou sentida.' (pg. 146)
'"A vida do insensato", dizia Epicuro, "é ingrata e inquieta: ela se volta toda para o futuro". Por isso eles vivem em vão, incapazes de se saciarem, de se satisfazerem, de serem felizes: eles não vivem, dispõem-se a viver, como dizia Sêneca, esperam viver, como dizia Pascal, depois lamentam o que viveram ou, mais frequentemente, o que não viveram... O passado como o futuro lhes falta.' (pg. 150)

11. A Humildade
'Se alguém imagina sua própria impotência, sua alma "se entristece por isso mesmo".' (pg. 154)
'A humildade, como virtude, é essa tristeza verdadeira de sermos apenas nós.' (pg. 156)

12. A Simplicidade
'Julgar-se é levar-se a sério demais. O simples não se questiona tanto assim sobre si mesmo. (...) Ele não se aceita nem se recusa. Não se interroga, não se contempla, não se considera. Não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação, ou antes - pois ser lhe parece uma palavra grandiosa demais para tão pequena existência -, faz o que faz, como todos nós, mas não vê nisso matéria para discursos, para comentários, nem mesmo para reflexão.' (pg. 163)
'Nada tem a provar, pois não quer parecer nada. Nada tem a buscar, pois tudo está ali.' (pg. 171)

13. A Tolerância
'O direito ao erro só é válido a parte ante; uma vez demonstrado o erro, este deixa de ser um direito e não dá direito algum: perseverar no erro, a parte post, já não é um erro, mas uma falta.' (pg. 174)
'Por isso chamamos de tolerância o que, se fôssemos mais lúcidos, mais generosos, mais justos, deveria chamar-se respeito, de fato, ou simpatia, ou amor...' (pg. 188)

14. A Pureza
'O puro não vê o mal em parte alguma ou, antes, apenas onde ele se encontra, onde o sofre: no egoísmo, na crueza, na maldade... É impuro tudo o que se faz de má vontade, ou com vontade má.' (pg. 195)
'A pureza é pobreza, despojamento, abandono. Ela começa onde cessa o eu, onde ele não vai, onde ele se perde.' (pg. 197)

15. A Doçura
'A doçura é uma força, por isso é uma virtude: é a força em estado de paz, força tranquila e doce, cheia de paciência e de mansuetude.' (pg. 205)
'Faz teu bem com o menor mal possível ao outro' (pg. 208)

16. A Boa-fé
'A boa-fé é uma sinceridade ao mesmo tempo transitiva e reflexiva. Ela rege, ou deveria reger, nossas relações tanto com outrem como conosco mesmos. Ela quer, entre os homens como dentro de cada um deles, o máximo de verdade possível, de autenticidade possível, e o mínimo, em consequência, de artifícios ou dissimulações.' (pg. 214)

17. O Humor
'Não ter humor é não ter humildade, é não ter lucidez, é não ter leveza, é ser demasiado cheio de si, é estar demasiado enganado acerca de si, é ser demasiado severo ou demasiado agressivo, é quase sempre carecer, com isso, de generosidade, de doçura, de misericórdia...' (pg. 229)
'A ironia é isso mesmo: é um riso que se leva a sério, é um riso que zomba, mas não de si, é um riso, e a expressão é bem reveladora, que goza da cara dos outros...' (pg. 232)
'"O humor, ao contrário, é uma manifestação da generosidade: sorrir daquilo que amamos é amá-lo duas vezes mais." Duas vezes mais? Não sei. Digamos que é amar melhor, com mais leveza, com mais espírito, com mais liberdade.' (pg. 236)

18. O Amor
'Sua ausência, mesmo que seja insolúvel, é o que torna as virtudes necessárias: o amor (mas o amor não egoísta) liberta da lei, quando existe, e a inscreve no fundo dos coraçòes, quando falta. (...) Pelo que o amor nos destina à moral e dela nos liberta. Pelo que a moral nos destina ao amor, ainda que ele esteja ausente, e a ele se submete.' (pg. 311)

'Como não somos virtuosos, fingimos ser, é o que se chama polidez. Como não sabemos amar, fingimos amar, é o que se chama moral. E os filhos imitam os pais, que imitam os seus... O mundo é um teatro, a vida é uma comédia, em que, no entanto, nem todos os papéis se equivalem, e nem todos os atores.' (pg. 108)

Essa edição:
Comte-Sponville, André. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. 2 ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009