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Wednesday, April 30, 2014

A RAINHA DO CASTELO DE AR - Série Millenium - Livro 3 - Stieg Larsson

Dessa vez não consegui encontrar nenhum trecho que não entregasse o rumo da história. Preferi me abster das passagens que gosto no livro.

Último livro da trilogia Millenium, 'A rainha do castelo de ar' também traz bastante ação, apesar de estar centrado na recuperação de Lisbeth e na batalha jurídica que ela iria travar com a justiça. Porém nada é tão simples quando se trata da personagem. Michael a auxilia na busca de provas para inocentá-la e isso envolve bastante gente: entram na roda o pessoal da SAPO (clube Zalachenko e funcionários que não estão a par da história), Polícia Nacional, Primeiro ministro, representantes do judiciário... Lisbeth continua muda em seus encontros com autoridades e médicos, apesar de ir cedendo aos poucos e, no tribunal, responder tranquilamente aos questionamentos feitos. Além da ação, há também os romances de Michael Blomkvist e a corrupção na Sapo. 

A personagem de Lisbeth muda bastante, ao longo do livro, sua concepção e forma de se relacionar com as pessoas. Já não se mostra tão fechada e indiferente ao resto do mundo. 

Como os demais livros da série, este é também de fácil e rápida leitura. Se você se permitir, passará horas a fio lendo sem vontade de parar! O final foi interessante, não poderia ser diferente. Vale a pena ler a trilogia, uma ótima literatura estrangeira pra se distrair e se divertir. 

Coloco aqui umas frases soltas que se destacaram:

"Ela tampouco era o tipo de mulher que se envolvia em aventuras sexuais de uma só noite, mesmo achando que muita pessoas se esqueciam do valor inestimável do sexo como um remédio para praticamente tudo." (pg. 447)

"A vida é assim. A gente nasce. Vive. Fica velho. Morre. Ele já concluíra o seu ciclo. Só lhe restava a deterioração." (pg. 523)

"Ninguém pode evitar de se apaixonar - disse ele. - A gente talvez queira negar, mas a amizade é sem dúvida uma forma mais comum de amor." (pg. 655)

O livro: LARSSON, Stieg. A rainha do castelo de ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.


Monday, April 14, 2014

FILME: 'Os homens que não amavam as mulheres'


O filme é baseado no primeiro livro da trilogia Millennium, do Stieg Larsson, "Os homens que não amavam as mulheres". 

Vi o filme na sexta-feira passada, cerca de uma semana após ter acabado de ler o livro. E achei o filme sem graça. Não condiz com toda a ação que percebi no livro e todo o suspense que está envolvido. 

Mas também eu já sabia tudo que ia acontecer e percebi 'os furos' que são feitos na história para poder encaixar tudo em um único filme. Entendo, não tem mesmo como traduzir quase 522 páginas de muita informação em 2 ou 3 horas de telinha!

Meu noivo, que não leu o livro, gostou. Então talvez quem não leu goste e ache o filme suficiente!!!

O que vi foi a versão mais recente, de 2011. Tem outra versão sueca, de 2009, que comecei a ver mas achei entediante. Parei nos 10 minutos. Talvez se tivesse insistido, poderia ter gostado.

A trilha sonora do filme é bem legal. E em 2012 ele teve 5 indicações ao Oscar: melhor atriz (Rooney Mara), melhor fotografia (Jeff Cronenweth), melhor edição (Kirk Baxter e Angus Wall - venceu), melhor edição de som (Ren Klyce) e melhor mixagem de som (Ren Klyce, David Parker, Bo Persson e Michael Semanick). Além de terem sido indicados em outras premiações de filmes. 

Ficha técnica do filme:
Título original: The girl with the dragon tattoo 
Ano de produção: 2011
Gênero: Policial, suspense
Nacionalidade: EUA, Reino Unido, Suécia, Alemanha
Tempo de filme:

Um dos trailers:


Wednesday, April 9, 2014

A MENINA QUE BRINCAVA COM FOGO - Série Millennium - Livro 2 - Stieg Larsson


 "Em compensação, as putas dos países bálticos eram indefensáveis do ponto de vista econômico. As putas só davam dinheiro para o gasto e representavam, antes de mais nada, uma complicação capaz de a qualquer momento suscitar matérias hipócritas na mídia e debates naquele estranho parlamento sueco, chamado Riksdag, onde as regras do jogo, na opinião do gigante loiro, eram no mínimo pouco pouco claras. A vantagem das putas é que elas não representavam praticamente nenhum risco jurídico. Todo mundo gosta de puta - o procurador, o juiz, os tiras e um parlamentar aqui e ali. Ninguém ia ficar cavoucando para pôr um fim a essa atividade." (pg. 183)
 Continuação da trama iniciada no livro 1 da série Millennium, A Menina que Brincava com Fogo prima pelo suspense. Ao contrário do seu antecessor, o segundo livro já começa 'pegando fogo', instigando a leitura sem parar! O autor escreve de uma forma que não deixa margem para um 'daqui a pouco eu acabo'. Há muita ação, violência, suspense, confusão, enfim, um aglomerado de eventos que não dá descanso. 

Como dá para ver pelo intervalo entre as publicações dos posts, li esse livro bem rapidinho. Fui comprar o terceiro livro no fim de semana e não tinha! Tive que encomendar, pego amanhã. Nessa série não dei intervalo entre os livros como gosto de fazer. Diferentemente de livros como os da coleção Ramsés, este praticamente não repete informações do livro anterior, então não fica cansativo. 

Assim como o primeiro livro, este segundo continua apresentando as diversas facetas da violência contra a mulher, abordando também a corrupção de pessoas que deveriam estar agindo para proteger, a existência de gangues e organizações voltadas para a exploração do comércio sexual e contrabando, preconceito, a discussão acerca dos crimes eletrônicos, dentre outros temas que surgem no decorrer da obra.   

A curiosidade pelo terceiro livro já está me corroendo! Vou tentar colocar algumas passagens do texto, que criticam esses temas, sem dar spoilers. Mas é um pouco difícil, todo trecho tem alguma informação interessante que já entrega um pouco do futuro da história. 

"Mikael era homem. Podia ir de uma cama a outra sem que ninguém sequer piscasse. Ela era mulher, e o fato de ter um amante, um só, e isso com a aprovação do marido - e ainda por cima ser fiel a esse amante há vinte anos -, suscitava conversas no minimo interessantes nos jantares da cidade. As pessoas realmente não têm mais o que fazer! Refletiu um instante, então pegou o telefone e ligou para o marido." (Erika Berger, pg. 132)

"...Com exceção de algumas poucas mulheres que se beneficiam do comércio do sexo, não existe nenhuma outra forma de criminalidade em que os papéis masculino e feminino sejam condição indispensável para o crime. Também não existe outra forma de criminalidade com tão ampla aceitação na sociedade e tão pouco empenho para acabar com ela." (Mia Bergman, pg. 97)

Este livro: LARSSON, Stieg. A menina que brincava com fogo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. 

Friday, March 28, 2014

OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES - Série Millennium - Livro 1 - Stieg Larsson

"Esse primeiro abuso sexual - em termos jurídicos podia ser qualificado como abuso sexual e de poder sobre uma pessoa dependente, e teoricamente podia significar até dois anos de prisão para Bjurman - durou apenas alguns segundos. O suficiente, porém, para transpor, sem volta, uma fronteira. Lisbeth Salander entendeu isso como a demonstração de força de uma tropa inimiga - um modo de deixar claro que, para além da relação jurídica cuidadosamente estabelecida, ela estava à mercê da boa vontade dele, e desarmada. Quando seus olhos se cruzaram alguns segundos depois, a boca de Bjurman estava entreaberta e ela viu desejo em seu rosto. O rosto de Salander não traía o menor sentimento." (pg. 205)
O que devo falar desse livro? Li vorazmente 350 páginas em 3 noites. Havia tempo que um livro não me incitava tal dedicação. Acho que o último deles foi a série de 4 livros "As Brumas de Avalon" (Livro 1, Livro 2, Livro 3, Livro 4). Engraçado que fui ler o livro por causa de uma indicação - até muito enfática - e  no início da leitura não encontrei nada de especial no livro. Me perguntava o que teria feito a pessoa gostar tanto! Mas a partir da página 200, mais ou menos, a história tomou um rumo com muita ação e me fez querer devorar as páginas restantes! Tanto que já comprei o livro 2 da série, tamanha a curiosidade em continuar lendo. 

Trata-se de um romance policial, se assim posso chamá-lo, em que os personagens iniciam suas histórias separadamente e no decorrer da trama vão todos se relacionando. Basicamente, Henrik Vanger (um velho empresário de um grande grupo importante na Suécia) contrata Mikael Blomkvist (um jornalista que fora condenado à prisão por difamação) para descobrir o mistério sobre sua sobrinha Harriet Vanger. Ao mesmo tempo, conta-se a história de Lisbeth Salander, uma racker e pesquisadora (sobre a vida/carreira de pessoas, conforme demanda) de 25 anos. Como a justiça julga que ela possui problemas de socialização, ela possui um tutor que acompanha suas atividades. 

Falando assim não parece que merece muita atenção, não é? Mas o livro, como o próprio nome diz, gira em torno de temas relacionados à violência contra a mulher, como estupros, assassinatos e abusos diversos. Como o autor dividiu o livro em quatro grandes capítulos, entre eles há frases apresentando dados sobre esses crimes contra as mulheres. Dentro de cada grande capítulo, há subtítulos que se referem a datas. O autor segue uma ordem cronológica, não há dificuldades em lê-lo. Apenas os nomes dos personagens são um pouco difíceis, já que são suecos, mas depois se acostuma com eles.

Portanto indico sua leitura para aqueles que gostam de ação com uma pitada de suspense! Alguns trechos do livro: 

"O grupo Vanger continua sendo uma das raras empresas familiares do país, com uns trinta membros da família como acionistas mais ou menos minoritários. Isso foi sempre a força do grupo, mas também nossa maior fraqueza." (Herik Vanger em conversa com Mikael Blomkvist, pg. 85)

"- Ele é um cretino - disse Mikael.
Henrik riu, mas acrescentou um comentário desprovido de qualquer sentimentalismo:
- É possível. Mas não foi ele que foi condenado pela justiça. 
- É verdade. E também nunca será. Não é o tipo que gosta de investigar, pega sempre o trem em marcha e joga a última pedra nos termos mais degradantes possíveis. 
- Cansei de encontrar gente assim na minha vida. Um bom conselho, se é que quer aceitar um conselho meu: ignore-lo quando ele estiver provocando, nunca esqueça nada e dê-lhe o troco quando puder. Mas não agora que ele ataca em posição de força." (conversa entre Henrik e Mikael, sobre um jornalista do qual não gostava, pg. 149).

"Mas não fez nada. Uma coisa que Holger Palmgren lhe ensinara ao longo dos anos era que atos impulsivos traziam problemas, e problemas podiam trazer consequências desagradáveis. Ela nunca fazia nada sem antes pesar as consequencias." (Salander após ser assediada por Bjurman, pg. 205)

"Ao contrário de Mimmi, Lisbeth Salander nunca se considerou uma autêntica lésbica. Nunca se preocupou em saber se era hétero, homo ou talvez bissexual. De modo geral, dava pouca importância a rótulos e achava que não competia a ninguém saber com quem ela passava a noite. Se fosse absolutamente necessário escolher, sua preferência sexual seria os rapazes - pelo menos eles lideravam as estatísticas." (Lisbeth Salander refletindo sobre sua vida sexual, pg. 299). 

Essa edição: LARSSON, Stieg. Os homens que não amavam as mulheres. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 

Sunday, March 2, 2014

ELOGIO DA LOUCURA - Erasmo de Rotterdam

" Do mesmo modo, o vulgo admira sobretudo as coisas em que prevalece a matéria e crê que sejam quase as únicas coisas existentes. As pessoas piedosas, pelo contrário, quanto mais uma coisa diz respeito ao corpo, tato mais a desdenham e se entregam completamente à contemplação do invisível. Uns colocam em primeiro lugar as riquezas, em segundo lugaras comodidades relativas ao corpo e em último lugar a alma, que, afinal, a maioria sequer acredita existir, pois o olho não pode vê-la. Os outros, ao contrário, tendem em primeiro lugar, de todo o coração, para DEus, o mais simples dos seres; em segundo lugar, a algo que ainda permanece em sua proximidade, ou seja, a alma, que mais do que tudo está próxima de Deus; desdenham o cuidado do corpo, desprezam as riquezas e delas fogem como algo imundo." (Elogio da Loucura, pg. 116)

A partir do trecho acima transcrito é possível perceber o tom do livro. Bastante interessante, é uma obra escrita em 1509, quando o autor estava com 44 anos (ele nasceu em 1465). O narrador do ensaio é a Loucura, que busca explicitar, por meio de fatos e exemplos, seu importante papel na vida humana. É um texto muito atual, com exemplos que se aplicam facilmente aos nossos dias. 

Rotterdam cita muitos personagens relacionados à mitologia e por isso fiquei um pouco perdida (não tenho muito conhecimento sobre eles!). Acredito que se soubesse um pouco mais, eu poderia ter um entendimento mais completo sobre a obra. Mas isso acontece apenas no início. Depois o autor começa a citar como exemplos os religiosos, os teólogos, filósofos, os magistrados, dentre outros, fazendo um contraponto com o papel da Loucura em suas vidas. E o fato de ela tornar a vida mais leve e mais fácil de ser vivida.

Sobre a igreja e os religiosos a crítica é ampla e forte, o que, de acordo com o texto na contracapa do livro,  fez com que se tornasse "um grande influenciador da Reforma Protestante". Ademais, um primo comentou que o leu a pedido da faculdade de direito. Interessante saber. O autor faz menção à oratória, e o discurso da Loucura em toda a obra está ligado a ela. 

Eu comprei o livro, mas descobri que poderia tê-lo lido de graça. Você pode baixar a obra em .pdf diretamente no site Ebooks Brasil ou no site Domínio Público. São poucas páginas, apenas 121. Lê-se rapidamente!

Trechos interessantes:

"Seja loucura quanto quiserem; terão de reconhecer a sua coerência. (...) Eu, porém, sigo aquele velho ditado popular segundo o qual quem não tem quem o louve, louve-se a si mesmo." (pg. 14 e 15)

"E que é esta vida, se lhe tirarmos o prazer? Pode ainda chamar-se vida?" (pg. 21)

"É por mérito meu que os jovens são tão carentes de juízo; por isso estão sempre de bom humor. Eu mentiria, porém, se não admitisse que, tão logo crescem um pouco e começam a adquirir certa maturidade com a experiência e a educação, a beleza logo murcha, diminui a alegria, esmorece a graça, decresce o vigor. Quanto mais se distanciam de mim, menos vivem, até chegar aos que voltaram à infância, ou seja, a importuna velhice, odiosa não só aos outros, mas também a si mesma." (pg. 22)

"Age contra o bom-senso quem não sabe adaptar-se ao presente, quem não adota os usos correntes e se esquece até da regra de convívio - ou bebes ou vais embora - e gostaria que uma comédia não fosse mais uma comédia." (pg. 41)

"Voltando ao assunto: a Fortuna ama os imprudentes, os audaciosos, os que adotam o lema: 'o dado foi lançado'. A sabedoria, ao contrário, torna tímidas as pessoas; por isso normalmente vedes esses sábios empenhados em lutar contra a pobreza, a fome, a fumaça; esquecidos, sem prestígio, sem simpatias, ao passo que os loucos, repletos de dinheiro, obtêm os altos cargos do estado e, para resumir, prosperam em todos os sentidos." (pg. 100)

"Quem não sabe que quanto mais disseminado um bem, mais valioso é?" (pg. 102)

Esta edição: ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da Loucura. 3a ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. (Coleção A obra-prima de cada autor; 37).

Tuesday, February 18, 2014

O VELHO E O MAR - Ernest Hemingway

"'Sim', pensou o velho. 'Agora que já saltou mais de uma dúzia de vezes e encheu de ar os sacos ao longo do dorso, já não poderá ir morrer no fundo, de onde eu jamais poderia içá-lo. Dentro em pouco começará a descrever círculos e depois tenho de começar a manobrá-lo. Que é que teria feito com que ele começasse a lutar tão repentinamente?Teria sido a fome que o desesperou ou ter-se-ia assustado com qualquer coisa na escuridão da noite?Talvez tivesse sentido medo de repente. Mas era um peixe tão calmo e tão forte, e parecia tão confiante e corajoso. É estranho." (pg. 84)
O livro é de uma simplicidade grandiosa! O autor escolhe as palavras a dedo, e consegue passar para o leitor muito bem as cenas, as ações, os sentimentos. Também, não é para menos: estamos falando de Ernest Hemingway. Autor que influenciou, e influencia até hoje, muitos autores contemporâneos e posteriores a ele com toda a sua maneira peculiar e particular de escrever e contar suas histórias. Com esta obra Hemingway ganhou o Prêmio Pulitzer. 

A leitura é muito rápida e tranquila. A obra conta a história de um pescador que há muito não tinha um bom dia de pesca e se arrisca até o alto mar para conseguir pegar um enorme peixe. Esse seria o maior desafio de sua vida. Ele passou 3 dias em alto mar, sozinho, comendo peixe cru e com apenas uma garrafinha de água. Ao final, ele consegue retornar à sua vila mas sem seu sonhado e suado prêmio. 

O autor conta a história de forma realista e não romanceia nem dramatiza as passagens: simplesmente conta o que se passa. A história me pareceu um tanto desmotivadora, ou pessimista, do tipo se for 'muita areia para o meu caminhãozinho', melhor não me arriscar. O personagem se arrisca solitário pelo alto mar e volta vivo, sim, porém todo machucado e sem a recompensa pela qual tanto sonhou e lutou, sem dormir ou comer por 3 dias. Há controvérsias. Outras pessoas acreditam que o livro reforce a questão da persistência, tomando-a como algo bom. Deixo em aberto. O autor suicidou-se em 1961, quando se encontrava em um período de decadência física e mental. Talvez esse fato tenha refletido um pouco no tom da escrita.

Algumas informações sobre o livro: "O Velho e o Mar é uma obra gestada em 1951, quando o autor se encontrava em Cuba. Foi lançada em 1962, e foi o derradeiro trabalho do escritor a ser editado não postumamente, sendo considerado seu clássico por excelência." 
Fonte: <http://www.infoescola.com/livros/o-velho-e-o-mar/>.

Alguns trechos interessantes: 

"'Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias', pensou o velho. 'A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte.'" (pg. 76) 

"Já agora, velho Santiago, você está ficando com a cabeça confusa. Você precisa conservar-se lúcido. Conserve-se lúcido e aprenda a sofrer como um homem. Ou como um peixe." (pg. 93)

"Então o peixe voltou à vida já com a morte nele e ergueu-se no ar mostrando o seu enorme comprimento e a sua enorme largura e todo o seu poder e toda a sua beleza. Parecia flutuar no ar, por cima do velho. Em seguida caiu n´água com um estrondo que lançou uma torrente de água sobre o barco e o pescador." (pg. 95)

"Era bom demais para durar. Gostaria que, afinal, houvesse sido tudo um sonho e que nunca tivesse pescado o peixe e que estivesse agora na minha cama deitado em cima dos meus velhos jornais." (pg. 104)

Esta edição: HEMINGWAY, ERNEST. O velho e o mar. 77a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2012. 128 p. 

Sunday, February 9, 2014

1Q84 - Haruki Murakami (Livro 1)

"Para fugir das obrigações, Tengo aprendeu desde cedo a não chamar atenção para si. Diante das pessoas ele reprimia suas habilidades, jamais expressava uma opinião, evitava se destacar e, na medida do possível, procurava anular sua própria existência. Desde criança, as circunstâncias de vida lhe ensinaram que precisava sobreviver sozinho, com suas próprias forças, sem contar com a ajuda de ninguém. Mas, na prática, uma criança não possui essa força. Por isso, quando ocorria uma forte ventania, ele se escondia e segurava firmemente alguma coisa para não ser levado pelo vento. Esse tipo de subterfúgio sempre o acompanhou desde criança, como os órfãos dos livros de Dickens." (1Q84, pg. 351)


Admito que ao iniciar a leitura desse livro me senti um pouco desanimada. Achei meio monótono e sem graça. Mas insisti. E com o passar das páginas a história foi ganhando contorno e fui me envolvendo com os personagens e o que ali se passava. Acabei de ler rapidinho e já comprei os outros dois livros. Eu não havia percebido de primeira, pensei que eram apenas dois livros, mas é uma trilogia. Estou ansiosa para ler os demais!

O autor divide o livro em capítulos dedicados aos dois personagens principais: Tengo e Aomame. Esses capítulos são intercalados, revelando aos poucos a trama e o papel de cada um deles no todo. Este volume procura descrever bem como são e como se comportam esses dois indivíduos e prepara o leitor para o que virá nos outros livros. 


A história se passa no ano de 1984, e o nome do livro se explica por Aomami se encontrar em um momento crítico em sua vida. O Q seria de 'interrogação', como se ela não soubesse ao certo quando estava vivendo. A obra envolve fantasia. Esse primeiro livro não deixa muito clara essa parte, mas já nos dá uma deixa do que virá nos próximos livros. 

Segundo artigo apresentado no G1: "A trama acompanha uma jovem chamada Aomame, que segue a enigmática sugestão de um taxista e começa a notar intrigantes discrepâncias no mundo à sua volta – até perceber que entrou em um universo paralelo. Enquanto isso, um aspirante a escritor chamado Tengo aceita um trabalho suspeito e sua vida começa a mudar. As narrativas de ambos convergem ao longo daquele ano, e surgem laços misteriosos que deixam os dois ainda mais próximos. Em se tratando de Murakami, é de se esperar que o cotidiano e o fantástico se misturem."

Na página 18 está a intrigante fala  do taxista para Aomame: "Nunca se esqueça de que as coisas não são o que aparentam ser. (...) Quando se faz algo incomum, as cenas cotidianas se tornam.. Digamos que se tornam ligeiramente diferentes do normal. Isso já aconteceu comigo. Mas não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única."

Que venham os próximos livros! 

Trechos interessantes: 

"Digamos que a vida real não é  como a matemática. Na vida real as coisas nem sempre seguem o percurso mais curto. A matemática é, como eu poderia dizer... é algo por demais natural para mim. É como uma paisagem bonita. É apenas algo que está aí. Não é preciso substituí-la. Por isso, quando estou inserido no mundo da matemática, eu me sinto como que gradualmente transparente. às vezes, isso me dá medo." (Tengo em conversa com Fukaeri, pg. 72)

"- Pois então - disse ela -, é mais fácil estar do lado da maioria que rejeita do que da minoria. A gente pensa: 'Ufa! Que bom que não sou um deles.' Sempre foi assim em qualquer época, em qualquer sociedade: se você estiver do lado da maioria, não precisa se incomodar com esse tipo de problema.
- E, se você está com a minoria, tem de encarar a questão. 
- Acho que sim - disse ela, com uma voz triste e desanimada. - O fato de estar nessas situação, no minimo, faz com que a pessoa aprenda a lidar com ela." (Tengo em conversa com sua amante, pg. 108)

"Em algum momento, o mundo que ela conhecia havia desaparecido e saído de cena, e fora substituído por outro. Era como mudar a posição da agulha numa linha férrea. Ou seja, apesar de sua consci~encia, aqui e agora, estar conectada ao mundo anterior, o mundo atual era diferente. Em seu mundo anterior, as mudanças dos eventos ainda eram bem restritas." (Aomame conversando consigo mesma, pg. 155).

Essa edição: MURAKAMI, H. 1Q84. Livro 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 430 p.