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Tuesday, February 18, 2014

O VELHO E O MAR - Ernest Hemingway

"'Sim', pensou o velho. 'Agora que já saltou mais de uma dúzia de vezes e encheu de ar os sacos ao longo do dorso, já não poderá ir morrer no fundo, de onde eu jamais poderia içá-lo. Dentro em pouco começará a descrever círculos e depois tenho de começar a manobrá-lo. Que é que teria feito com que ele começasse a lutar tão repentinamente?Teria sido a fome que o desesperou ou ter-se-ia assustado com qualquer coisa na escuridão da noite?Talvez tivesse sentido medo de repente. Mas era um peixe tão calmo e tão forte, e parecia tão confiante e corajoso. É estranho." (pg. 84)
O livro é de uma simplicidade grandiosa! O autor escolhe as palavras a dedo, e consegue passar para o leitor muito bem as cenas, as ações, os sentimentos. Também, não é para menos: estamos falando de Ernest Hemingway. Autor que influenciou, e influencia até hoje, muitos autores contemporâneos e posteriores a ele com toda a sua maneira peculiar e particular de escrever e contar suas histórias. Com esta obra Hemingway ganhou o Prêmio Pulitzer. 

A leitura é muito rápida e tranquila. A obra conta a história de um pescador que há muito não tinha um bom dia de pesca e se arrisca até o alto mar para conseguir pegar um enorme peixe. Esse seria o maior desafio de sua vida. Ele passou 3 dias em alto mar, sozinho, comendo peixe cru e com apenas uma garrafinha de água. Ao final, ele consegue retornar à sua vila mas sem seu sonhado e suado prêmio. 

O autor conta a história de forma realista e não romanceia nem dramatiza as passagens: simplesmente conta o que se passa. A história me pareceu um tanto desmotivadora, ou pessimista, do tipo se for 'muita areia para o meu caminhãozinho', melhor não me arriscar. O personagem se arrisca solitário pelo alto mar e volta vivo, sim, porém todo machucado e sem a recompensa pela qual tanto sonhou e lutou, sem dormir ou comer por 3 dias. Há controvérsias. Outras pessoas acreditam que o livro reforce a questão da persistência, tomando-a como algo bom. Deixo em aberto. O autor suicidou-se em 1961, quando se encontrava em um período de decadência física e mental. Talvez esse fato tenha refletido um pouco no tom da escrita.

Algumas informações sobre o livro: "O Velho e o Mar é uma obra gestada em 1951, quando o autor se encontrava em Cuba. Foi lançada em 1962, e foi o derradeiro trabalho do escritor a ser editado não postumamente, sendo considerado seu clássico por excelência." 
Fonte: <http://www.infoescola.com/livros/o-velho-e-o-mar/>.

Alguns trechos interessantes: 

"'Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias', pensou o velho. 'A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte.'" (pg. 76) 

"Já agora, velho Santiago, você está ficando com a cabeça confusa. Você precisa conservar-se lúcido. Conserve-se lúcido e aprenda a sofrer como um homem. Ou como um peixe." (pg. 93)

"Então o peixe voltou à vida já com a morte nele e ergueu-se no ar mostrando o seu enorme comprimento e a sua enorme largura e todo o seu poder e toda a sua beleza. Parecia flutuar no ar, por cima do velho. Em seguida caiu n´água com um estrondo que lançou uma torrente de água sobre o barco e o pescador." (pg. 95)

"Era bom demais para durar. Gostaria que, afinal, houvesse sido tudo um sonho e que nunca tivesse pescado o peixe e que estivesse agora na minha cama deitado em cima dos meus velhos jornais." (pg. 104)

Esta edição: HEMINGWAY, ERNEST. O velho e o mar. 77a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2012. 128 p. 

Sunday, February 9, 2014

1Q84 - Haruki Murakami (Livro 1)

"Para fugir das obrigações, Tengo aprendeu desde cedo a não chamar atenção para si. Diante das pessoas ele reprimia suas habilidades, jamais expressava uma opinião, evitava se destacar e, na medida do possível, procurava anular sua própria existência. Desde criança, as circunstâncias de vida lhe ensinaram que precisava sobreviver sozinho, com suas próprias forças, sem contar com a ajuda de ninguém. Mas, na prática, uma criança não possui essa força. Por isso, quando ocorria uma forte ventania, ele se escondia e segurava firmemente alguma coisa para não ser levado pelo vento. Esse tipo de subterfúgio sempre o acompanhou desde criança, como os órfãos dos livros de Dickens." (1Q84, pg. 351)


Admito que ao iniciar a leitura desse livro me senti um pouco desanimada. Achei meio monótono e sem graça. Mas insisti. E com o passar das páginas a história foi ganhando contorno e fui me envolvendo com os personagens e o que ali se passava. Acabei de ler rapidinho e já comprei os outros dois livros. Eu não havia percebido de primeira, pensei que eram apenas dois livros, mas é uma trilogia. Estou ansiosa para ler os demais!

O autor divide o livro em capítulos dedicados aos dois personagens principais: Tengo e Aomame. Esses capítulos são intercalados, revelando aos poucos a trama e o papel de cada um deles no todo. Este volume procura descrever bem como são e como se comportam esses dois indivíduos e prepara o leitor para o que virá nos outros livros. 


A história se passa no ano de 1984, e o nome do livro se explica por Aomami se encontrar em um momento crítico em sua vida. O Q seria de 'interrogação', como se ela não soubesse ao certo quando estava vivendo. A obra envolve fantasia. Esse primeiro livro não deixa muito clara essa parte, mas já nos dá uma deixa do que virá nos próximos livros. 

Segundo artigo apresentado no G1: "A trama acompanha uma jovem chamada Aomame, que segue a enigmática sugestão de um taxista e começa a notar intrigantes discrepâncias no mundo à sua volta – até perceber que entrou em um universo paralelo. Enquanto isso, um aspirante a escritor chamado Tengo aceita um trabalho suspeito e sua vida começa a mudar. As narrativas de ambos convergem ao longo daquele ano, e surgem laços misteriosos que deixam os dois ainda mais próximos. Em se tratando de Murakami, é de se esperar que o cotidiano e o fantástico se misturem."

Na página 18 está a intrigante fala  do taxista para Aomame: "Nunca se esqueça de que as coisas não são o que aparentam ser. (...) Quando se faz algo incomum, as cenas cotidianas se tornam.. Digamos que se tornam ligeiramente diferentes do normal. Isso já aconteceu comigo. Mas não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única."

Que venham os próximos livros! 

Trechos interessantes: 

"Digamos que a vida real não é  como a matemática. Na vida real as coisas nem sempre seguem o percurso mais curto. A matemática é, como eu poderia dizer... é algo por demais natural para mim. É como uma paisagem bonita. É apenas algo que está aí. Não é preciso substituí-la. Por isso, quando estou inserido no mundo da matemática, eu me sinto como que gradualmente transparente. às vezes, isso me dá medo." (Tengo em conversa com Fukaeri, pg. 72)

"- Pois então - disse ela -, é mais fácil estar do lado da maioria que rejeita do que da minoria. A gente pensa: 'Ufa! Que bom que não sou um deles.' Sempre foi assim em qualquer época, em qualquer sociedade: se você estiver do lado da maioria, não precisa se incomodar com esse tipo de problema.
- E, se você está com a minoria, tem de encarar a questão. 
- Acho que sim - disse ela, com uma voz triste e desanimada. - O fato de estar nessas situação, no minimo, faz com que a pessoa aprenda a lidar com ela." (Tengo em conversa com sua amante, pg. 108)

"Em algum momento, o mundo que ela conhecia havia desaparecido e saído de cena, e fora substituído por outro. Era como mudar a posição da agulha numa linha férrea. Ou seja, apesar de sua consci~encia, aqui e agora, estar conectada ao mundo anterior, o mundo atual era diferente. Em seu mundo anterior, as mudanças dos eventos ainda eram bem restritas." (Aomame conversando consigo mesma, pg. 155).

Essa edição: MURAKAMI, H. 1Q84. Livro 1. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. 430 p.