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Friday, March 28, 2014

OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES - Série Millennium - Livro 1 - Stieg Larsson

"Esse primeiro abuso sexual - em termos jurídicos podia ser qualificado como abuso sexual e de poder sobre uma pessoa dependente, e teoricamente podia significar até dois anos de prisão para Bjurman - durou apenas alguns segundos. O suficiente, porém, para transpor, sem volta, uma fronteira. Lisbeth Salander entendeu isso como a demonstração de força de uma tropa inimiga - um modo de deixar claro que, para além da relação jurídica cuidadosamente estabelecida, ela estava à mercê da boa vontade dele, e desarmada. Quando seus olhos se cruzaram alguns segundos depois, a boca de Bjurman estava entreaberta e ela viu desejo em seu rosto. O rosto de Salander não traía o menor sentimento." (pg. 205)
O que devo falar desse livro? Li vorazmente 350 páginas em 3 noites. Havia tempo que um livro não me incitava tal dedicação. Acho que o último deles foi a série de 4 livros "As Brumas de Avalon" (Livro 1, Livro 2, Livro 3, Livro 4). Engraçado que fui ler o livro por causa de uma indicação - até muito enfática - e  no início da leitura não encontrei nada de especial no livro. Me perguntava o que teria feito a pessoa gostar tanto! Mas a partir da página 200, mais ou menos, a história tomou um rumo com muita ação e me fez querer devorar as páginas restantes! Tanto que já comprei o livro 2 da série, tamanha a curiosidade em continuar lendo. 

Trata-se de um romance policial, se assim posso chamá-lo, em que os personagens iniciam suas histórias separadamente e no decorrer da trama vão todos se relacionando. Basicamente, Henrik Vanger (um velho empresário de um grande grupo importante na Suécia) contrata Mikael Blomkvist (um jornalista que fora condenado à prisão por difamação) para descobrir o mistério sobre sua sobrinha Harriet Vanger. Ao mesmo tempo, conta-se a história de Lisbeth Salander, uma racker e pesquisadora (sobre a vida/carreira de pessoas, conforme demanda) de 25 anos. Como a justiça julga que ela possui problemas de socialização, ela possui um tutor que acompanha suas atividades. 

Falando assim não parece que merece muita atenção, não é? Mas o livro, como o próprio nome diz, gira em torno de temas relacionados à violência contra a mulher, como estupros, assassinatos e abusos diversos. Como o autor dividiu o livro em quatro grandes capítulos, entre eles há frases apresentando dados sobre esses crimes contra as mulheres. Dentro de cada grande capítulo, há subtítulos que se referem a datas. O autor segue uma ordem cronológica, não há dificuldades em lê-lo. Apenas os nomes dos personagens são um pouco difíceis, já que são suecos, mas depois se acostuma com eles.

Portanto indico sua leitura para aqueles que gostam de ação com uma pitada de suspense! Alguns trechos do livro: 

"O grupo Vanger continua sendo uma das raras empresas familiares do país, com uns trinta membros da família como acionistas mais ou menos minoritários. Isso foi sempre a força do grupo, mas também nossa maior fraqueza." (Herik Vanger em conversa com Mikael Blomkvist, pg. 85)

"- Ele é um cretino - disse Mikael.
Henrik riu, mas acrescentou um comentário desprovido de qualquer sentimentalismo:
- É possível. Mas não foi ele que foi condenado pela justiça. 
- É verdade. E também nunca será. Não é o tipo que gosta de investigar, pega sempre o trem em marcha e joga a última pedra nos termos mais degradantes possíveis. 
- Cansei de encontrar gente assim na minha vida. Um bom conselho, se é que quer aceitar um conselho meu: ignore-lo quando ele estiver provocando, nunca esqueça nada e dê-lhe o troco quando puder. Mas não agora que ele ataca em posição de força." (conversa entre Henrik e Mikael, sobre um jornalista do qual não gostava, pg. 149).

"Mas não fez nada. Uma coisa que Holger Palmgren lhe ensinara ao longo dos anos era que atos impulsivos traziam problemas, e problemas podiam trazer consequências desagradáveis. Ela nunca fazia nada sem antes pesar as consequencias." (Salander após ser assediada por Bjurman, pg. 205)

"Ao contrário de Mimmi, Lisbeth Salander nunca se considerou uma autêntica lésbica. Nunca se preocupou em saber se era hétero, homo ou talvez bissexual. De modo geral, dava pouca importância a rótulos e achava que não competia a ninguém saber com quem ela passava a noite. Se fosse absolutamente necessário escolher, sua preferência sexual seria os rapazes - pelo menos eles lideravam as estatísticas." (Lisbeth Salander refletindo sobre sua vida sexual, pg. 299). 

Essa edição: LARSSON, Stieg. Os homens que não amavam as mulheres. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 

Sunday, March 2, 2014

ELOGIO DA LOUCURA - Erasmo de Rotterdam

" Do mesmo modo, o vulgo admira sobretudo as coisas em que prevalece a matéria e crê que sejam quase as únicas coisas existentes. As pessoas piedosas, pelo contrário, quanto mais uma coisa diz respeito ao corpo, tato mais a desdenham e se entregam completamente à contemplação do invisível. Uns colocam em primeiro lugar as riquezas, em segundo lugaras comodidades relativas ao corpo e em último lugar a alma, que, afinal, a maioria sequer acredita existir, pois o olho não pode vê-la. Os outros, ao contrário, tendem em primeiro lugar, de todo o coração, para DEus, o mais simples dos seres; em segundo lugar, a algo que ainda permanece em sua proximidade, ou seja, a alma, que mais do que tudo está próxima de Deus; desdenham o cuidado do corpo, desprezam as riquezas e delas fogem como algo imundo." (Elogio da Loucura, pg. 116)

A partir do trecho acima transcrito é possível perceber o tom do livro. Bastante interessante, é uma obra escrita em 1509, quando o autor estava com 44 anos (ele nasceu em 1465). O narrador do ensaio é a Loucura, que busca explicitar, por meio de fatos e exemplos, seu importante papel na vida humana. É um texto muito atual, com exemplos que se aplicam facilmente aos nossos dias. 

Rotterdam cita muitos personagens relacionados à mitologia e por isso fiquei um pouco perdida (não tenho muito conhecimento sobre eles!). Acredito que se soubesse um pouco mais, eu poderia ter um entendimento mais completo sobre a obra. Mas isso acontece apenas no início. Depois o autor começa a citar como exemplos os religiosos, os teólogos, filósofos, os magistrados, dentre outros, fazendo um contraponto com o papel da Loucura em suas vidas. E o fato de ela tornar a vida mais leve e mais fácil de ser vivida.

Sobre a igreja e os religiosos a crítica é ampla e forte, o que, de acordo com o texto na contracapa do livro,  fez com que se tornasse "um grande influenciador da Reforma Protestante". Ademais, um primo comentou que o leu a pedido da faculdade de direito. Interessante saber. O autor faz menção à oratória, e o discurso da Loucura em toda a obra está ligado a ela. 

Eu comprei o livro, mas descobri que poderia tê-lo lido de graça. Você pode baixar a obra em .pdf diretamente no site Ebooks Brasil ou no site Domínio Público. São poucas páginas, apenas 121. Lê-se rapidamente!

Trechos interessantes:

"Seja loucura quanto quiserem; terão de reconhecer a sua coerência. (...) Eu, porém, sigo aquele velho ditado popular segundo o qual quem não tem quem o louve, louve-se a si mesmo." (pg. 14 e 15)

"E que é esta vida, se lhe tirarmos o prazer? Pode ainda chamar-se vida?" (pg. 21)

"É por mérito meu que os jovens são tão carentes de juízo; por isso estão sempre de bom humor. Eu mentiria, porém, se não admitisse que, tão logo crescem um pouco e começam a adquirir certa maturidade com a experiência e a educação, a beleza logo murcha, diminui a alegria, esmorece a graça, decresce o vigor. Quanto mais se distanciam de mim, menos vivem, até chegar aos que voltaram à infância, ou seja, a importuna velhice, odiosa não só aos outros, mas também a si mesma." (pg. 22)

"Age contra o bom-senso quem não sabe adaptar-se ao presente, quem não adota os usos correntes e se esquece até da regra de convívio - ou bebes ou vais embora - e gostaria que uma comédia não fosse mais uma comédia." (pg. 41)

"Voltando ao assunto: a Fortuna ama os imprudentes, os audaciosos, os que adotam o lema: 'o dado foi lançado'. A sabedoria, ao contrário, torna tímidas as pessoas; por isso normalmente vedes esses sábios empenhados em lutar contra a pobreza, a fome, a fumaça; esquecidos, sem prestígio, sem simpatias, ao passo que os loucos, repletos de dinheiro, obtêm os altos cargos do estado e, para resumir, prosperam em todos os sentidos." (pg. 100)

"Quem não sabe que quanto mais disseminado um bem, mais valioso é?" (pg. 102)

Esta edição: ROTTERDAM, Erasmo. Elogio da Loucura. 3a ed. São Paulo: Martin Claret, 2012. (Coleção A obra-prima de cada autor; 37).