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Tuesday, January 11, 2011

AMAR, VERBO INTRANSITIVO - Mário de Andrade

"... Hoje, minha senhora, isso está se tornando uma necessidade desde que a filosofia invadiu o terreno do amor! Tudo o que há de pessimismo pela sociedade de agora! Estão se animalizando cada vez mais. Pela influência às vezes até indireta de Schopenhauer, de Nietzsche... embora sejam alemães. Amor puro, sincero, união inteligente de duas pessoas, compreensão mútua. E um futuro de paz conseguido pela coragem de aceitar o presente." (Amar, Verbo Intransitivo; pg. 78).
No início achei o livro um pouco chato, não me dava muita vontade de lê-lo. Mas mais para a metade, me interessei pela história que estava sendo contada. Talvez porque acabei de sair de um livro mais 'filosofia' e de repente entrar em um romance, pode ter demorado um pouco pra 'cair a ficha'. Achei que deveria lê-lo pois é um dos clássicos da literatura brasileira. Enfim, gostei do livro, mas não entra na minha lista dos favoritos! É uma história diferente e curiosa, para os tempos de hoje. 

A história gira em torno do 'relacionamento' entre Fräulen (Elza) e Carlos. Fräulen tem como profissão 'professora de amor' e Carlos é seu aluno, um jovem burguês de São Paulo, de apenas 16 anos. O pai, Souza Costa, contrata os serviços da professora pois acredita que nos dias de hoje é muito difícil a iniciação sexual de um jovem, uma vez que as 'mulheres da vida' têm muitas doenças. O que ele deseja é que Carlos continue sadio e aprenda a amar. Fräulen então entra na casa da família como governanta, e ensina piano e alemão para as filhas do casal (Souza Costa e Laura), enquanto durante as aulas de alemão para Carlos ela ia, discretamente, suscitando sentimentos diferentes no aluno. Por fim, eles se apaixonam e o  momento da partida de Fräulen se torna difícil e doloroso para ambos.   

De acordo com Telê Porto Ancona Lopez (em texto presente antes do início do livro, pg. 10): "O romance, porém, não pretende apenas contar uma história de amor; como texto moderno e modernista que é, tem muitos outros propósitos... Possui, além da heroína muito e pouco heróica, outra personagem 'principal', esta não participando diretamente da intriga, mas vivendo os percalços do contar - o narrador." Sim, o narrador acaba por roubar a cena algumas das vezes, tentando explicar um pouco dos personagens... Logo na página 57, o narrador afirma que 'Vale, porém não tenho a mínima intenção de exigir dos leitores o abandono de suas Elzas e impor a minha como única de existência real'. Ele acredita que cada leitor acaba por criar uma percepção particular sobre o personagem e, por conseguinte, seu próprio personagem. O livro traz ainda muitas palavras e versos em alemão, acredito devido a origem da professora e de suas aulas. 

Partes selecionadas que achei interessante... acho que tem um viés do livro anterior... enfim, essas são as que gostei mais:

"NÃO EXISTE MAIS UMA ÚNICA PESSOA INTEIRA NESTE MUNDO E NADA MAIS SOMOS QUE DISCÓRDIA E COMPLICAÇÃO" (Destaque do próprio autor. O narrador tratando da filosofia e do amor - pg. 80)

"Carlos se mostra alegre, despreocupado, não vê a doença e vai-se embora. O que não é visível, existe?" (sobre Carlos e sua ajuda a Fräulen quando da doença de Maria Luisa, uma das filhas do casal - pg. 114)

"Que coisa misteriosa o sono! ... Só aproxima a gente da morte, para nos estabelecer melhor dentro da vida..." (sobre a recuperação de uma doença de Maria Luísa, uma das filhas do casal - pg. 115)

"A casa esteve imóvel nesse dia. Todos sofriam. Porque Carlos sofria. O próprio Souza Costa sofria, porém era homem e voltara a achar certa graça no caso, aquilo passava. Os outros imaginavam que não passava. Isto é: não se preocupavam com esses futuros muito condicionais, o importante era o presente. E no presente pirassunungava a dor macota de um, todos sofriam." (sobre o sofrimento de Carlos com a partida de Fräulen - pg. 140)

 Essa edição: Andrade, Mário de. Amar, verbo intransitivo - Idílio. 13 ed. Belo Horizonte: Editora Itatiaia Limitada, 1986.

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