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Thursday, November 11, 2010

Próximos...

Estão na minha lista:

- Pequeno tratado das grandes virtudes
- Nárnia
- Amar: verbo intransitivo

Queria começar do menor, já que acabei de sair de um de quase 1000 páginas!! Acho que vou tentar ler o primeiro e o último concomitantemente. Até o fim do ano, ao menos um, eu acabo! =)

OS IRMÃOS KARAMÁZOV - vol. 2 - Fiódor Dostoiévski

"Oh, também somos bons e magníficos, mas só quando nós mesmos nos sentimos bem e magnificamente. Ao contrário, somos até dominados - precisamente dominados - pelos mais nobres ideais, mas só sob a condição de que eles sejam atingidos por acaso, que nos caiam do céu sobre a mesa e, principalmente, que sejam gratuitos, gratuitos, que nada paguemos por eles. Abominamos pagar, mas em compensação gostamos muito de receber, e isso em todos os sentidos." (Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, pg. 904)
Bom, o que dizer sobre esse último volume? Apesar de tantas obrigações que eu tinha a fazer, encontrei tempo para terminar sua leitura. O segundo livro é ainda melhor que o primeiro e eu  não tinha vontade de parar de ler!! Ele continua a história falando sobre a morte do stárietz Zossima e descreve a vida dos três irmãos após esse episódio.

Dostoiévski demora na descrição dos episódios do julgamento, bem como nos discursos dos advogados de defesa e acusação. Também refere-se as reações das pessoas que participavam como ouvintes do julgamento, e a influência que estes criaram na percepção de tais advogados no decorrer do julgamento.

Para quem não quiser saber sobre o final, salte essa parte e vá para os trechos interessantes do livro!

Como leitora, torci para que Dimitri não fosse condenado, que todo o engano fosse desfeito mas, uma vez que não se trata de um romance com 'final feliz', o destino de Dimitri foi selado. Ele é condenado não apenas pelo parricídio, mas também por sua vida prévia desregrada, em que esbanjava dinheiro e fazia o que bem entendia. Ivan foi o único que soube da verdade em sua completude, ao obter o testemunho Smierdiakóv. Porém, a doença já lhe tomava o corpo e, no dia do julgamento, não teve condições psicológicas de relatar o caso a todos. Smierdiakóv, talvez pela pressão de sua confissão a Ivan, se suicida e retira a possibilidade de se clarearem as coisas. 

Durante toda a trama Aliócha se mantém ao lado da família de Iliúcha, jovem que adoece após a agressão de Dimitri a Snieguirióv (pai do menino). No fim, Aliócha discursa para os jovens amigos de Iliúcha - após seu enterro - e destaca a importância deles manterem sentimentos nobres de amizade, amor, generosidade e companheirismo. Além da necessidade de manterem boas lembranças daquele momento, uma vez que se se tornassem maus no futuro, ao menos se lembrariam de um momento em que foram felizes e bons: "Sabei que não há nada mais elevado, nem mais forte, nem mais saudável, nem doravante mais útil para a vida que uma boa lembrança, sobretudo aquela trazida ainda da infância, da casa paterna" (pg. 996). 

Algumas partes interessantes do livro:

"Poder-se-ia pensar: que amor é esse que precisa ser tão vigiado, e de que vale um amor que precisa ser tão intensamente vigiado? Pois é isso que nunca irá compreender o verdadeiro ciumento; não obstante, palavra, entre eles aparecem pessoas até de coração elevado" (descrevendo o ciúme que Dimitri nutria por Grúchenka - pg. 508).

"Ah, não, há pessoas de sentimentos profundos, mas que são um tanto ressentidas. Entre elas, a bufonaria é uma espécie de ironia maldosa contra aqueles em cuja cara elas não se atrevem a dizer a verdade em virtude da longa e humilhante timidez experimentada diante delas" (Aliócha conversando com o jovem Krassótkin, pg. 698).

" (Aliócha): Há momentos em que as pessoas gostam do crime. (Liza):  Disseste o que eu penso; gostam, todos gostam e gostam sempre, não por 'momentos'. Sabes, nisso é como se um dia todo mundo tivesse combinado mentir e desde então todos mentisse. Todos dizem que odeiam as coisas más, mas lá no íntimo gostam" (Conversa entre Liza e Aliócha, pg. 756). 

"... Sem ti não haveria quaisquer acontecimentos, e é preciso que haja acontecimentos. E então trabalho a contra-gosto para que haja acontecimentos e crio o insensato cumprindo ordem. os homens, a despeito de toda a sua indiscutível inteligência, tomam toda essa comédia por alguma coisa séria. Nisto reside sua tragédia. E então sofrem, é claro, mas... em compensação, vivem apesar de tudo, vivem na realidade, não na fantasia: porque o sofrimento é que é vida. Sem sofrimento, que prazer poderia haver em viver? - tudo se transformaria num infinito." (O diabo em conversa com Ivan, pg. 831)

"Ora, somos gente muito habituada a tudo isso! Nosso horror está justamente no fato de que esses casos sombrios quase já não nos horrorizam mais! Porquanto o que deve nos horrorizar é o nosso hábito e não um delito isolado desse ou daquele indivíduo. Onde estão as causas de nossa indiferença, de nossa atitude quase morna diante de semelhantes casos, de semelhantes bandeiras da época, que nos profetizam um futuro nada invejável? Estariam no nosso cinismo, na exaustão precoce da inteligência e da imaginação de nossa sociedade ainda tão jovem mas tão precocemente caduca? Estariam em nosso princípios morais abalados até os fundamentos ou, enfim, talvez no fato de até carecermos totalmente desses princípios morais? Eu não tenho a solução para esses problemas, e todavia eles são angustiantes, e todo e qualquer cidadão não só deve, como é obrigado a sofrer por eles." (discurso do promotor, pg. 897) 

De acordo com Bezerra (texto encontra-se no fim do livro) "...em 1880 'Os Irmãos Karamázov', romance-panorama que engloba vastos aspectos históricos, sociais, ideológicos, psicológicos, religiosos, jurídicos, etc., que, transfigurados no amplo espectro de caracteres e atitudes das muitas personagens que o povoam, personificam a vida da Rússia da segunda metade do sec. XIX. O romance é a síntese de toda a obra de Dostoiévski, que começa em 1846 com a publicação de 'Gente Pobre' e 'O Duplo', cujos temas e formas de representação vão se ampliando a cada novo livro..."

Sobre este volume: Os Irmãos Karamázov, Fiódor Dostoiévski, Editora 34, volume 2. 

Wednesday, November 3, 2010

ÉTICA PARA MEU FILHO - Fernando Savater

"... diante do melhor e do pior dos seres humanos cabem diferentes apreciações ou avaliações, mas não a indiferença, pois a humanidade do outro sempre compromete a minha..." (Ética para meu filho, Fernando Savater, pg. 139).

Li o livro por indicação. A expectativa era a de que eu pudesse ter uma visão um tanto diferente das coisas e das pessoas que me cercam e, principalmente, das atitudes e escolhas que tenho e faço para comigo mesma e para com os outros. Como o próprio autor diz "este livro não é um manual de ética para adolescentes, nem um compêndio com os trabalhos dos mais destacados autores ou os mais importantes movimentos da teoria moral ao longo da história; tampouco traz respostas moralizantes para os problemas cotidianos". 

"A palavra ética se origina do termo grego ethos, que significa 'modo de ser', 'caráter', 'costume', 'comportamento'. De fato, a ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por um lado, procurando descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir; por outro, procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos. Assim, pode-se dizer que a ética trata do que é 'bom' e do que é 'mau' para nós." (Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u14.jhtm; acesso em 03/11/2010)

Me foi apresentada uma nova forma de ver a vida. A ética é tida como uma maneira de se entender e buscar uma 'boa vida' dentro dos moldes 'humanos', que é o que queremos para nós mesmos. A idéia é que a ética irá delinear nossas ações, tendo sempre em consideração a liberdade e aquilo que desejamos. Como não é um livro que conta uma história, deixo abaixo algumas frases, trechos que achei interessante durante a leitura:

"Por mais que nos vejamos acuados pelas circunstâncias, nunca temos apenas um caminho a seguir, mas vários." (pg. 24)

"Às vezes os homens querem coisas contraditórias, que entram em conflito umas com as outras. É importante ser capaz de estabelecer prioridades e de impor uma certa hierarquia entre aquilo que tenho vontade imediatamente e o que quero no fundo, a longo prazo." (pg. 54)

"Só deveríamos chamar de egoísta consequente aquele que sabe de verdade o que lhe convém para viver bem e se esforça para conseguí-lo." (pg. 76)

"Responsabilidade é saber que cada um de meus atos vai me construindo, vai me definindo, vai me inventando. Ao escolher o que quero fazer vou me transformando pouco a pouco." (pg. 83)

"... o que interessa à ética, o que constitui sua especialidade, é como viver bem a vida humana, a vida que transcorre entre humanos." (pg. 86)

"Por que o prazer assusta? Suponho que seja por nos agradar demais.(...) O prazer as vezes nos distrai mais do que convém, o que pode acabar sendo fatal." (pg. 104)