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Sunday, January 6, 2013

O LIVRO DE AREIA - Jorge Luis Borges

"A qualquer momento terei completado setenta e tantos anos; continuo dando aulas de inglês para alguns poucos alunos. Por indecisão ou por negligência ou por outras razões, não me casei, e agora estou só. Não sofro pela solidão; já é bastante esforço alguém tolerar a si mesmo e a suas próprias manias. Noto que estou envelhecendo; um sintoma inequívoco é o fato de que não me interessam ou surpreendem as novidades, talvez porque observe que nada de essencialmente novo há nelas e que não passam de tímidas variações." (O livro de areia - o congresso, pg. 21-22).
Encontrei esse livro em uma banca de jornal, o qual veio acompanhado de um outro exemplar, porém de poesia. Este ainda não li. O preço dos dois foi muito bom, o que me fez aproveitar essa oportunidade! Ainda não conhecia o autor, não havia lido nenhuma de suas obras, e esse livro me instigou a ler outras, futuramente. 

Deixando de lado detalhes de ordem diversa, foi uma leitura muito agradável e rápida. Linguagem fácil de entender. O autor divide o livro em 13 contos - se assim posso chamá-los -  que tratam de temas variados. Muita criatividade é apresentada nos textos. São histórias fantásticas que, apesar de muitas vezes serem curtas (2 ou 3 páginas, como "o disco"), te envolvem e te deixam com gostinho de 'quero mais'. Em algumas das histórias senti aquele desejo de saber mais, aquela vontade de descobrir o que vem depois... Por isso não leia buscando muita lógica nas histórias. O entender o texto se trata de sentir as palavras e o que o autor está tentando passar para o leitor. Indico fortemente a sua leitura!

Você pode adquirir o produto no site da Livraria Folha. Não há muito o que falar, há de se ler o livro para poder sorver todas as impressões! Mas abaixo apresento algumas passagens que achei interessante: 

"Meu sonho já durou setenta anos. Afinal, ao recordar, não existe ninguém que não se encontre consigo mesmo. É o que nos está acontecendo agora, só que somos dois. Você não gostaria de saber algo do meu passado, que é o futuro que o espera?" (Conversa entre ele e ele mesmo, mais jovem. Conto: o outro, pg. 9)

"Tudo isto é um milagre - conseguiu dizer - e milagres dão medo. Os que foram testemunhas da ressurreição de Lázaro devem ter ficado horrorizados." (Conversa entre ele e ele mesmo, mais jovem. Conto: o outro, pg. 14)

"A frase pretendia ser engenhosa e imaginei que não era a primeira vez que a pronunciava. Soube depois que não combinava com ela, mas o que dizemos nem sempre se parece conosco." (Ulrica, pg. 16)

"- Eu gostaria que este momento durasse para sempre - murmurei. 
- Sempre é uma palavra que não e permitida aos homens..." (Ulrica, pg. 18)

"Os anos não modificam nossa essência, se é que temos alguma; o impulso que me levaria, uma noite, ao Congresso do Mundo foi o que me trouxe, inicialmente, à redação da Última Hora." ( O congresso, pg. 23)

"Senti o que sentimos quando alguém morre: a angústia, já inútil, de que nada nos teria custado ter sido melhores." (there are more things, pg. 39)

"Era preciso que as coisas fossem inesquecíveis. Não bastava a morte de um ser humano pelo ferro ou pela cicuta para ferir a imaginação dos homens até o fim dos dias. O Senhor dispôs os fatos de modo patético." (A seita dos trinta, pg. 49)

"Também a mim a vida deu tudo. A todos a vida dá tudo, mas a maioria ignora isso. Minha voz está cansada e meus dedos fracos, mas escuta-me." (undr, pg. 67)

"Foi então que o desconhecido me disse:
- Olhe-a bem. Nunca mais a verá. 
Havia uma ameaça em sua afirmação, mas não na voz. 
Fixei-me no lugar e fechei o volume. Imediatamente o abri. Procurei em vão a figura da âncora, folha por folha." ( o livro de areia, pg. 96)

Sobre esta edição: BORGES, Jorge Luis. O livro de areia. São Paulo: MEDIAfashion, 2012. 104 p. Coleção Folha. Liberatura ibero-americana; v. 1)

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