"O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu: Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. Digo experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha idéia; nem a ciência é outra coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois, de uma experiência, mas uma experiência que vai mudar a face da Terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente." (O Alienista, pg. 9)
É um livro muito interessante, de um autor brasileiro de grande importância. Muito me agradou a sua leitura! Este título já foi alvo de muitas provas vestibulares, porém não o havia lido até hoje. É um livro pequeno, apenas 34 páginas. Bom, cabe destacar que a versão que li obtive gratuitamente no site Domínio Público, onde estão disponibilizadas várias obras, de diferentes autores. Vale a pena conferir e baixar! Destaco que no site há diversas versões de uma mesma obra. Esta que li, em particular, aponta a UNAMA (Universidade da Amazônia) como entidade que disponibilizou. Não possui a capa que apresento acima, mas apenas o título do livro com a origem do arquivo (UNAMA).
É uma obra muito agradável de ler, que apresenta um vocabulário, as vezes, rebuscado e que é escrita de forma peculiar, característica do autor e das obras da sua época. Por seu tamanho e enredo sua leitura é bem rápida.
O texto nos conta a história do médico português Simão Bacamarte, que vive na cidade de Itaguaí e alí resolve estudar a loucura. Resolve que, para isso, deve-se construir um local onde todos os 'loucos' devem viver juntos: a Casa Verde. Ele a construiu com o apoio do governo, alegando a grande importância dos seus estudos para a ciência e a medicina. Com esse objetivo, confinou grande parte dos moradores da cidade na Casa Verde, e com o tempo suscitou a desconfiança e o desconforto da população que ainda restava fora de seus muros. Houve então uma revolução, chefiada por um barbeiro da cidade - Porfírio -, que além de derrubar a Casa Verde, queria obter poder político. Porém suas reais intenções vêm a tona quando conversa em particular com o alienista.
Após esse momento, que acabou não interferindo nas suas experiências, Simão Bacamarte chega a conclusão de que aqueles que estão na Casa Verde não são os verdadeiros loucos e, sim, aqueles que gozam de total equilíbrio mental. Ou seja, os que gozam de equilíbrio constante são os loucos! O médico então libera todos os que estavam abrigados na Casa Verde e busca novos moradores, com características distintas daquelas iniciais.
Vale a pena ler! Trechos interessantes:
"Nada tenho que ver com a ciência; mas, se tantos homens em quem supomos são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?" (pg. 18)
"Daí em diante foi uma coleta desenfreada. Um homem não podia dar nascença ou curso à mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. Tudo era loucura." (pg. 26)
"Um dia de manhã - dia em que a Câmara devia dar um grande baile, - a vila inteira ficou abalada com a notícia de que a própria esposa do alienista fora metida na Casa Verde. Ninguém acreditou; devia ser invenção de algum gaiato. E não era: era a verdade pura. D. Evarista fora recolhida às duas horas da noite. o Padre Lopes correu ao alienista e interrogou-o discretamente acerca do fato." (pg. 26)
"E cavando por aí abaixo, eis o resultado a que chegou: os cérebros bem organizados que ele acabava de curar, eram desequilibrados como os outros. Sim, dizia ele consigo, eu não posso ter a pretensão de haver-lhes incutido um sentimento ou uma faculdade nova; uma e outra coisa existiam no estado latente, mas existiam." (pg. 33)
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