"Esse primeiro abuso sexual - em termos jurídicos podia ser qualificado como abuso sexual e de poder sobre uma pessoa dependente, e teoricamente podia significar até dois anos de prisão para Bjurman - durou apenas alguns segundos. O suficiente, porém, para transpor, sem volta, uma fronteira. Lisbeth Salander entendeu isso como a demonstração de força de uma tropa inimiga - um modo de deixar claro que, para além da relação jurídica cuidadosamente estabelecida, ela estava à mercê da boa vontade dele, e desarmada. Quando seus olhos se cruzaram alguns segundos depois, a boca de Bjurman estava entreaberta e ela viu desejo em seu rosto. O rosto de Salander não traía o menor sentimento." (pg. 205)
O que devo falar desse livro? Li vorazmente 350 páginas em 3 noites. Havia tempo que um livro não me incitava tal dedicação. Acho que o último deles foi a série de 4 livros "As Brumas de Avalon" (Livro 1, Livro 2, Livro 3, Livro 4). Engraçado que fui ler o livro por causa de uma indicação - até muito enfática - e no início da leitura não encontrei nada de especial no livro. Me perguntava o que teria feito a pessoa gostar tanto! Mas a partir da página 200, mais ou menos, a história tomou um rumo com muita ação e me fez querer devorar as páginas restantes! Tanto que já comprei o livro 2 da série, tamanha a curiosidade em continuar lendo.
Trata-se de um romance policial, se assim posso chamá-lo, em que os personagens iniciam suas histórias separadamente e no decorrer da trama vão todos se relacionando. Basicamente, Henrik Vanger (um velho empresário de um grande grupo importante na Suécia) contrata Mikael Blomkvist (um jornalista que fora condenado à prisão por difamação) para descobrir o mistério sobre sua sobrinha Harriet Vanger. Ao mesmo tempo, conta-se a história de Lisbeth Salander, uma racker e pesquisadora (sobre a vida/carreira de pessoas, conforme demanda) de 25 anos. Como a justiça julga que ela possui problemas de socialização, ela possui um tutor que acompanha suas atividades.
Falando assim não parece que merece muita atenção, não é? Mas o livro, como o próprio nome diz, gira em torno de temas relacionados à violência contra a mulher, como estupros, assassinatos e abusos diversos. Como o autor dividiu o livro em quatro grandes capítulos, entre eles há frases apresentando dados sobre esses crimes contra as mulheres. Dentro de cada grande capítulo, há subtítulos que se referem a datas. O autor segue uma ordem cronológica, não há dificuldades em lê-lo. Apenas os nomes dos personagens são um pouco difíceis, já que são suecos, mas depois se acostuma com eles.
Portanto indico sua leitura para aqueles que gostam de ação com uma pitada de suspense! Alguns trechos do livro:
"O grupo Vanger continua sendo uma das raras empresas familiares do país, com uns trinta membros da família como acionistas mais ou menos minoritários. Isso foi sempre a força do grupo, mas também nossa maior fraqueza." (Herik Vanger em conversa com Mikael Blomkvist, pg. 85)
"- Ele é um cretino - disse Mikael.
Henrik riu, mas acrescentou um comentário desprovido de qualquer sentimentalismo:
- É possível. Mas não foi ele que foi condenado pela justiça.
- É verdade. E também nunca será. Não é o tipo que gosta de investigar, pega sempre o trem em marcha e joga a última pedra nos termos mais degradantes possíveis.
- Cansei de encontrar gente assim na minha vida. Um bom conselho, se é que quer aceitar um conselho meu: ignore-lo quando ele estiver provocando, nunca esqueça nada e dê-lhe o troco quando puder. Mas não agora que ele ataca em posição de força." (conversa entre Henrik e Mikael, sobre um jornalista do qual não gostava, pg. 149).
"Mas não fez nada. Uma coisa que Holger Palmgren lhe ensinara ao longo dos anos era que atos impulsivos traziam problemas, e problemas podiam trazer consequências desagradáveis. Ela nunca fazia nada sem antes pesar as consequencias." (Salander após ser assediada por Bjurman, pg. 205)
"Ao contrário de Mimmi, Lisbeth Salander nunca se considerou uma autêntica lésbica. Nunca se preocupou em saber se era hétero, homo ou talvez bissexual. De modo geral, dava pouca importância a rótulos e achava que não competia a ninguém saber com quem ela passava a noite. Se fosse absolutamente necessário escolher, sua preferência sexual seria os rapazes - pelo menos eles lideravam as estatísticas." (Lisbeth Salander refletindo sobre sua vida sexual, pg. 299).
Essa edição: LARSSON, Stieg. Os homens que não amavam as mulheres. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.