"Eu cá não o digo nem penso - respondeu Sancho. - Eles lá que saibam as linhas com que se cosem, pouco se me dá: se foram amancebados ou não, a Deus terão prestado contas. Eu sigo o meu caminho, não sei de nada, não sou amigo de me meter na vida alheia, pois quem mexe em vespeiro, picado sairá. Tanto mais que nu nasci, nu estou: não perco nem ganho. Mas, se o eram, que me importa a mim? E nem tudo o que reluz é ouro. Mas quem pode pôr travas ao vento? Tanto mais que até de Deus murmuravam." (Sancho em conversa com Dom Quixote, p. 319 - 320)
Admito que a leitura foi um tanto enfadonha. Me propus a ler esse livro por ser um clássico literário. Mas, talvez pela própria época em que foi escrito, não me apeteceu muito. Foi demorado de lê-lo, e não me encontrava com muito ânimo de continuar lendo por muito tempo. Mas terminei. No final consegui 'relaxar' um pouco e rir das 'travessuras' e loucuras de Dom Quixote. Quem sabe o próximo volume se mostre mais interessante?
Enfim, o livro conta desde o início a história de Dom Quixote e Sancho Pança, com suas aventuras e desventuras pelas terras espanholas. Uma escrita, de certa forma, rebuscada. Mas vale a leitura para aqueles que apreciam livros dessa época - 1605, quando foi lançado o primeiro volume. O livro também pode ser caracterizado como uma sátira a literatura de cavalaria da época. Acompanhado por Rocinante, o Cavaleiro da Triste Figura - como também é chamado Dom Quixote - e Sancho Pança se envolvem em disparatados episódios que lhes custam vários apuros.
Apesar da minha simples e humilde opinião sobre o livro, em 2002 o mesmo foi considerado o melhor livro do mundo (mais detalhes aqui)! A edição que li é muito interessante, pois conta com várias referências de pé de página que explicam detalhes que passariam desapercebidos. Além disso, contém uma breve biografia de Cervantes.
Trechos interessantes da obra:
"Em suma, ele engolfou-se tanto em sua leitura, que lendo passava as noites em claro, e os dias em turvo; e assim, do pouco dormir e do muito ler, se lhe secou o cérebro de maneira que veio a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo aquilo que lia nos livros, tanto de encantamentos como de pelejas, batalhas, duelos, ferimentos, galanteios, amores, desgraças e disparates impossíveis; e assentou-se-lhe de tal modo na imaginação que era verdade toda aquela máquina daquelas sonhadas invenções que lia, que para ele não havia outra história mais certa no mundo." (o narrador da história contando sobre Dom Quixote e o início de sua 'loucura', p. 54).
"Eu sei, com a natural razão que Deus me deu, que tudo o que é formoso é amável; mas não consigo compreender que, em razão de ser amado, esteja obrigado o que e amado por formoso a amar a quem o ama. Mais ainda, poderia acontecer que o amador do formoso fosse feio, e, sendo o que é feio digno de ser aborrecido, mui mal seria o dizer "Amo-te por formosa: tens de amar-me ainda que seja feio". Mas, o caso de serem parelhas as formosuras, nem por isso hão de ser parelhos os desejos, porque nem todas as formosuras enamoram: algumas alegram a vista e não rendem a vontade; se todas as belezas enamorassem e rendessem, seria um andarem as vontades confusas e desorientadas, sem saber em qual haviam de parar, porque, sendo infinitos os sujeitos formosos, infinitos haviam de ser os desejos". (Discurso de Marcela sobre o suicídio de Grisóstomo, p. 179)
"Apesar disso, faço-te saber, irmão Pança - replicou D. Quixote -, que não há memória que o tempo não apague, nem dor que morte não elimine". (Dom Quixote em conversa com Sancho Pança, p. 193)
"Fica sabendo, Sancho, que nenhum homem é mais que outro, se não faz mais que outro. Todas estas tempestades que nos sucedem são sinais de que logo há de vir a bonança e hão de sair-nos bem as coisas, porque não é possível que o mal nem o bem sejam duradouros, e daí se segue que, havendo durado muito o mal, o bem já está perto. Assim, não deves afligir-te pelas desgraças que a mim me sucedem, pois a ti não te cabe parte nelas". (Dom Quixote em conversa com Sancho Pança, p. 230)
"Essa é a natural condição de mulheres - disse D. Quixote -, desdenhar quem as ama e amar quem as aborrece. Prossiga, Sancho. " (p. 250)
Dados dessa edição:
CERVANTES, M. O engenhoso fidalgo D. Quixote da Mancha, vol. 1. São Paulo: Abril, 2010.
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