"'Sim', pensou o velho. 'Agora que já saltou mais de uma dúzia de vezes e encheu de ar os sacos ao longo do dorso, já não poderá ir morrer no fundo, de onde eu jamais poderia içá-lo. Dentro em pouco começará a descrever círculos e depois tenho de começar a manobrá-lo. Que é que teria feito com que ele começasse a lutar tão repentinamente?Teria sido a fome que o desesperou ou ter-se-ia assustado com qualquer coisa na escuridão da noite?Talvez tivesse sentido medo de repente. Mas era um peixe tão calmo e tão forte, e parecia tão confiante e corajoso. É estranho." (pg. 84)
O livro é de uma simplicidade grandiosa! O autor escolhe as palavras a dedo, e consegue passar para o leitor muito bem as cenas, as ações, os sentimentos. Também, não é para menos: estamos falando de Ernest Hemingway. Autor que influenciou, e influencia até hoje, muitos autores contemporâneos e posteriores a ele com toda a sua maneira peculiar e particular de escrever e contar suas histórias. Com esta obra Hemingway ganhou o Prêmio Pulitzer.
A leitura é muito rápida e tranquila. A obra conta a história de um pescador que há muito não tinha um bom dia de pesca e se arrisca até o alto mar para conseguir pegar um enorme peixe. Esse seria o maior desafio de sua vida. Ele passou 3 dias em alto mar, sozinho, comendo peixe cru e com apenas uma garrafinha de água. Ao final, ele consegue retornar à sua vila mas sem seu sonhado e suado prêmio.
O autor conta a história de forma realista e não romanceia nem dramatiza as passagens: simplesmente conta o que se passa. A história me pareceu um tanto desmotivadora, ou pessimista, do tipo se for 'muita areia para o meu caminhãozinho', melhor não me arriscar. O personagem se arrisca solitário pelo alto mar e volta vivo, sim, porém todo machucado e sem a recompensa pela qual tanto sonhou e lutou, sem dormir ou comer por 3 dias. Há controvérsias. Outras pessoas acreditam que o livro reforce a questão da persistência, tomando-a como algo bom. Deixo em aberto. O autor suicidou-se em 1961, quando se encontrava em um período de decadência física e mental. Talvez esse fato tenha refletido um pouco no tom da escrita.
Algumas informações sobre o livro: "O Velho e o Mar é uma obra gestada em 1951, quando o autor se encontrava em Cuba. Foi lançada em 1962, e foi o derradeiro trabalho do escritor a ser editado não postumamente, sendo considerado seu clássico por excelência."
Fonte: <http://www.infoescola.com/livros/o-velho-e-o-mar/>.
Alguns trechos interessantes:
"'Imagine o que seria se um homem tivesse de tentar matar a lua todos os dias', pensou o velho. 'A lua corre depressa. Mas imagine só se um homem tivesse de matar o sol. Nascemos com sorte.'" (pg. 76)
"Já agora, velho Santiago, você está ficando com a cabeça confusa. Você precisa conservar-se lúcido. Conserve-se lúcido e aprenda a sofrer como um homem. Ou como um peixe." (pg. 93)
"Então o peixe voltou à vida já com a morte nele e ergueu-se no ar mostrando o seu enorme comprimento e a sua enorme largura e todo o seu poder e toda a sua beleza. Parecia flutuar no ar, por cima do velho. Em seguida caiu n´água com um estrondo que lançou uma torrente de água sobre o barco e o pescador." (pg. 95)
"Era bom demais para durar. Gostaria que, afinal, houvesse sido tudo um sonho e que nunca tivesse pescado o peixe e que estivesse agora na minha cama deitado em cima dos meus velhos jornais." (pg. 104)
Esta edição: HEMINGWAY, ERNEST. O velho e o mar. 77a. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2012. 128 p.