"Fico pensando... - E ele traçou novamente a linha das serpentes imaginárias, tocando-lhe o pulso com a outra mão. - Sempre soube que tive outras vidas, pois parece-me que a vida é algo demasiado grande para ser vivida apenas uma vez e ser logo apagada como uma lâmpada, quando o vento sopra. E por que, então, quando a vi pela primeira vez, senti que já a conhecia antes mesmo de o mundo ser feito? Essas coisas são mistérios, e creio que talvez as conheça melhor do que eu." (Fala de Uther a Igraine, sobre um amor de outra vida entre os dois, pg. 125, As Brumas de Avalon, A senhora da Magia)
Eu já o havia tentado ler anteriormente, mas sem sucesso, parei nas primeiras 20 páginas do livro. Muitos personagens permeiam a trama e talvez por isso, na minha primeira tentativa há alguns anos atrás, eu o tenha abandonado. Porém, nessa segunda tentativa de leitura, esse livro se mostrou totalmente envolvente. Sim. Talvez o início se mostre um tanto confuso, com muitas histórias entrelaçadas e uma grande quantidade de novos personagens. Mas essa sensação passa... e me envolvi de tal forma na história que fica difícil querer parar de ler.
Como primeiro livro da série, ele se dedica a contar como tudo começou. Relata a história de Igraine (irmã de Viviane), Viviane (Senhora do Lago e sacerdotisa de Avalon), Morgana (filha de Igraine), Merlim, Uther (grande rei da Bretanha) e Arthur. A trama se inicia contando um pouco da vida de Igraine, que se casou com Gorlois, Duque da Cornualha, como mandado pela sua irmã Viviane. Viviane havia criado Igraine até certa idade em Avalon e depois a enviou para casar-se com Gorlois. Igraine tem uma filha com Gorlois, chamada Morgana, mas ele desejava um filho dela. Porém agora Igraine deveria fazer parte de algo maior, algo que a Deusa havia traçado para sua vida: unir-se a Uther e dele ter um filho que, futuramente, seria o grande rei da Bretanha e uniria todos reis da região.
Igraine se mostra resistente no início pois, desde que se casou, vivia sob os preceitos da fé cristã e deitar-se com outro homem, que não fosse seu marido, lhe trazia grande desconforto e revolta. Porém, Gorlois, após a morte de Ambrósio (até então grande rei), relutou unir-se a Uther (devido a incidentes envolvendo sua esposa Igraine) e provocou, desta forma, guerra contra Uther. Este último, decidido a tomar Igraine como sua esposa e amante, foi buscá-la no castelo da Cornualha e entrou em combate com Gorlois, que faleceu. Uther então casou-se imediatamente com Igraine. Perdidamente apaixonada por Uther, ela lhe dá um filho, que se chama Arthur.
Arthur, ainda criança, sofreu alguns atendados contra sua vida e, como forma de protegê-lo, Uther segue a sugestão de Merlim e o envia para ser criado por um dos reis no interior do país, sem divulgá-lo a ninguém. Assim como Arthur, Morgana é enviada para morar em Avalon, junto com a tia Viviane, e ser iniciada nos costumes e crenças daquele povo. Esta se torna mulher e sacerdotisa em Avalon, enquanto Arthur se torna um rapaz forte. Morgana se apaixona por Lancelote, filho de Viviane (portanto seu primo e primo de Arthur), porém não tem sua paixão correspondida. No mesmo dia em que Morgana se sente perdidamente apaixonada por Lancelote, ele se sente atraído por uma garota cristã que estava perdida em Avalon (Gwenhwyfar).
Uther falece em batalha e Igraine passa a viver em um convento. Arthur então é chamado para tomar seu lugar como rei. Primeiro ele passa pelos rituais dos druidas, em que acaba por deitar-se com Morgana e engravidá-la, sob as figuras da Deusa e do Deus (Galhudo) na festa do Gamo-Rei. Após ser aceito por meio deste ritual pelos 'povos antigos', Arthur é então coroado grande rei da Bretanha também pelos cristãos. Em seguida, ele jura que respeitará os costumes e crenças dos druidas e dos povos antigos e, em troca, recebe a espada Excalibur e a sua bainha bordada com inúmeros encantamentos para protegê-lo.
Além disso, é muito acentuada a discussão entre conceitos "pagãos" e cristãos, sobre o que é certo e o que é errado. Para mim, ficou clara a intransigência dos que são cristãos quanto ao convívio ou tolerância às crenças e hábitos dos ali chamados pagãos. É uma discussão interessante e que me deixou pensativa quanto às minhas próprias crenças, dentro das nossas perspectivas atuais.
Esse primeiro volume da trama possui 280 páginas que consumi prazerosamente, já ansiosa pelo o que virá nos próximos! Mais um livro tirado de nossa mini biblioteca, sua edição é de 1985. Para mais resenhas e resumos clique aqui.
Sobre essa edição: BRADLEY, Marion Zimmer. As Brumas de Avalon: A Senhora da Magia. Rio de Janeiro: Imago, 1985.