"Da mesma forma, ao se regressar de um passio, ou após uma doença - antes que os hábitos voltassem novamente a se tecer na superfície das nossas vidas -, sentia-se essa mesma surpreendente sensação de irrealidade; sentia-se algo emergir. A vida jamais era tão brilhante como nesse momento."(Passeio ao Farol, pg. 172)
Publicado em 1927, o livro "Passeio ao Farol", de Virgínia Woolf (1882 - 1941), trata da história de uma família em três momentos distintos. Inicialmente, a família completa, liderada pela mãe; em um segundo momento retrata-se a morte da mãe e dois irmãos; e num terceiro momento são apresentadas as perspectivas sobre essa família, agora liderada pelo pai.
A autora trata de descrever minuciosamente os pensamentos de seus personagens a respeito das diferentes temáticas e pessoas que entram no enredo. De início a leitura se mostrou difícil, já que a autora passa do pensamento de uma pessoa para outra sem intervalos, além de escrever grandes parágrafos. A linguagem não é simples, mas após algumas páginas e maior intimidade com sua forma de escrita, a leitura se torna prazeroza e interessante.
"Em seus livros mais importantes, está presente um procedimento renovador: o enredo é praticamente dissolvido, reduzindo-se a um fio mínimo, a uma espécie de atmosfera que liga as personagens. Um acontecimento exterior qualquer desencadeia idéias e seqüencias de idéias que levam a personagem a mover-se com liberdade na consciência, transitando do passado ao presente e vice-versa." (Passeio ao Farol, pg. 190).
"Os limites da ficção realista com técnicas de simultaneidade alicerçadas naquilo que se chamou, a partir de William James, de "fluxo da consciência", permitiu-se a integração, na estrutura da narrativa, de momentos de iluminação (as epifanias de Joyce ou Proust) e criou-se, por outro lado, uma nova concepção do tempo narrativo a que já se chamou de "forma espacial do romance". Neste sentido, embora a obra tenha um plano claramente delineado, as três partes, separadas por dez anos de experiências, antes confundem do que clarificam a cronologia porque o tempo que passa, ou passou, como está sobretudo na segunda parte, não se desprega da experiência subjetiva e da memória dos personagens."
Sobre essa edição do livro:
Woolf, Virgínia. Passeio ao farol. Círculo do livro, 1987. Coleção Grandes Autoras, capa dura.